segunda-feira, 15 de novembro de 2010

No Haiti, o fantasma cruel de Papa Doc comanda a ópera sinistra
Emanoel Barreto
Emilio Morenatti/AP

A simples citação da palavra Haiti nos remete imediatamente a um país de sofrimento, negros em permanente estado de ameaça social, atraso, culto vudu, zumbis caminhando em meio a trevas. Mas tal estado de coisas não é o Haiti.
 
Sua gente foi tornada assim por séculos de ataques de europeus e americanos, pilhagem de suas riquezas, morticínio e dizimação dos índios que habitavam a bela ilha de Hispaniola, a Pérola do Caribe, local onde surgiu a realidade a que hoje chamamos de Haiti.

Agora, depois da devastação do último terremoto, fenômeno natural que se juntou aos abalos sociais que sempre ali tiveram império, parece que o fantasma do cruel Papa Doc comanda a ópera sinistra ali instalada. A cólera chegou como um, mais um flagelo a prender-se à vida dolorosa dos haitianos. 

A via crucis parece não ter fim. Economicamente arrasado, o país não tem condições sanitárias e seu povo é mantido em relativa ordem pelas tropas internacionais ali acantonadas. Quer dizer: todo um povo torna-se equivalente a uma quadrilha ou bando a ser domado. Há bandidos sim, mas eles existem porque e como causa da espoliação dos haitianos, dessangrados até à última gota. 

E segue toda aquela multidão de desvalidos a clamar aos olhos do mundo por ajuda, reorganização social e dignidade humana. O Haiti é no Haiti. E como que sob a assombração de Papa Doc seu povo segue, zumbi de si mesmos seus homens, mulheres e crianças; mais mortos que vivos, temendo até mesmo beber água.

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