terça-feira, 12 de outubro de 2010

Viva Chile, mierda!, gritou o presidente Piñera

A matéria da Folha mostra abaixo, em seu estilo gagá-dudu, como se processam os trabalhos de resgate dos mineiros. Especial atenção para a forma como o presidente Piñera vai se aproveitar da situação dos trabalhadores para ganhar popularidade e surgir como herói. Pena que o estilo gagá-dudu da Folha não traga em suas assertivas a representação da dramaticidade do momento e as manobras do presidente, o que somente seria conseguido se a repórter tivesse permissão para escrever. Escrever de verdade. (EB)

Operação de resgate dos 33 mineiros torna-se mina de ouro para presidente chileno


LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL À COPIAPÓ (CHILE)


"Ele não perderá esse momento por nada neste mundo", disse Marta Flores Duhalde, da Cruz Vermelha, trabalhando no apoio emocional às famílias dos homens soterrados.
O presidente fez da operação de salvamento na mina San José ponto de honra de seu governo.
Em suas palavras, "o resgate será um verdadeiro renascimento não só dos 33 mineiros mas também para o espírito de unidade, força, fé e esperança" do Chile.


Já no momento em que se descobriu que os mineiros estavam vivos, Piñera fez um discurso inflamado, identificando o Chile, recém-assolado pela tragédia do terremoto do início do ano, aos mineiros enfrentando a tragédia do desabamento.

Transformou o salvamento dos homens sob a terra em uma metáfora do próprio Chile, que também poderia ser salvo. O governo Piñera, é claro, seria o condutor de ambos os salvamentos.

"Chi-chi-chi, le-le-le, viva Chile, mierda!", gritou o presidente, ao finalizar um discurso inflamado em homenagem aos mineiros, quando afinal se soube que eles ainda estavam vivos, no dia 22 de agosto. Piñera surpreendeu até seus aliados.

No governo, não se informa a quanto montam os custos da operação de salvamento, que implicaram trazer dos EUA e do Canadá equipamentos e pessoal especializado em perfuração.
É gente que atuou anteriormente no Afeganistão e em prospecção de petróleo.
Segundo a assessoria de imprensa, só depois do fim dos trabalhos se divulgarão os custos.

O dirigente da Codelco, a gigante estatal do cobre chileno, Gerardo Jofré, disse ao jornal "El Mercurio" que tem todos os gastos planilhados, mas que quem poderá divulgar os números é o governo.

Eleito em 17 de janeiro ao derrotar o candidato situacionista Eduardo Frei, o milionário Piñera, representante de uma coalizão de centro-direita, tinha a perspectiva de governar um país dividido. Unificá-lo era o seu principal desafio.


PATRIOTISMO

O clima patriótico do acampamento Esperanza, quando está para ser feito o resgate, se espalha pelo país por meio dos canais de TV.
E tudo o que se vê são pessoas cantando a plenos pulmões o hino nacional, imagens subterrâneas dos 33 mineiros, Piñera discursando e Laurence Golborne, o ministro da Mineração, transformado em líder supremo dos trabalhos de resgate.
A oposição desapareceu.


A não ser pelas visitas discretas da senadora Isabel Allende, filha do trágico presidente socialista Salvador Allende (1969-1973), e do deputado comunista Lautaro Carmona, é quase nula a presença da oposição ao presidente Piñera no drama que mobiliza o país.

Fora da sala de imprensa, de novo, vem o grito "Chi-chi-chi, le-le-le, los mineros de Chile!"
Também deve acompanhar o resgate o presidente boliviano, Evo Morales.


ENTREVISTA COLETIVA


Em entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira, o ministro da Saúde chileno, Jaime Mañalich, seu colega da pasta da Mineração, Laurence Golborne, e o chefe das operações de resgate, André Sougarret, explicaram detalhes e riscos da operação de resgate.

O trio deixou claro que não divulgará a lista com a ordem de retirada dos mineiros. "Qualquer dado em torno da ordem de saída dos mineiros é especulação. Não publicaremos a lista. O primeiro a subir, em particular, será decidido na última hora", disse o chefe das operações.

Já o ministro da Saúde informou que o estado dos 33 trabalhadores segue estável. "Não há novidades quanto à saúde deles, todos estão bem."
A coletiva das três figuras principais nas operações de resgate chegou algumas horas depois de ter sido feito o anúncio de que o revestimento do túnel pelo qual os 33 mineiros chilenos devem ser resgatados foi concluído nas primeiras horas desta segunda-feira.

Otimista, o ministro da Mineração disse que todos os testes com a cápsula Fênix 1 já foram finalizados, e após a descida do dispositivo até 610 metros --dos 622 necessários para alcançar os mineiros-- foi possível determinar que não há riscos de desabamento durante a subida dos trabalhadores à superfície.

CÁPSULA FÊNIX 1


André Sougarret disse que uma câmera instalada dentro da cápsula Fênix 1 revelou que não há rochas soltas. "Temos certeza agora de que não há rochas soltas e não haverá possibilidade de deslizamentos durante a passagem, que deve ocorrer à velocidade de 1 metro por segundo".

"Basicamente eliminamos todos os riscos de membros da equipe ficarem isolados lá dentro", complementou.
O chefe das operações acrescentou ainda que deve pedir dados adicionais para testar o sistema de subida.

CÁPSULAS RESERVA

Caso aconteça qualquer problema com a primeira cápsula, as equipes têm de prontidão outros dois dispositivos, a Fênix 2 e a Fênix 3.
O trio que lidera os trabalhos, no entanto, não escondeu a preocupação em torno da possibilidade de usar as reservas, que têm dimensões menores do que a primeira.
As cápsulas Fênix 2 e 3 não são ideais para transportar os mineiros", disse Mañalich.

Para Jaime Mañalich, da pasta da Saúde, a maior parte do trabalho será feita para preparar os mineiros antes da subida.


PREPARAÇÃO

O ministro da Saúde informou que os mineiros deverão começar uma dieta líquida cerca de seis horas antes do início dos trabalhos. "Será uma dieta com muitas calorias e suplementos de magnésio e fósforo".

SOCORRISTAS

O trio que lidera todas as operações de resgate informaram que quatro socorristas descerão para auxiliar na preparação dos mineiros.
São eles: um especialista em resgate em minas, dois enfermeiros e um mineiro.
"O principal trabalho será feito enquanto eles ainda estiverem lá embaixo. É importante que sejam quatro até para que possam descansar e se revezar durante os dias que a operação durar", informou o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.


O grupo só saberá quem é o primeiro a descer horas antes do início da operação, para minimizar o stress e a tensão antes de começar a descida ao interior da mina, indicaram os ministros.


TRAJETO PARA OS HOSPITAIS


Um importante detalhe informado na coletiva é que há previsão de chuva para terça-feira e quarta-feira.
"Hoje [segunda-feira (11)] às 14h30 haverá testes com helicópteros da Força Aérea, simulando situações de pacientes com situação de risco máximo, caso precisemos fazer saídas muito rápidas", disse Mañalich.


Caso as aeronaves não tenham condições de voo, será necessário levar os mineiros de ambulância, por terra.

"Não publicaremos uma lista. O primeiro a subir, em particular, será decidido somente na última hora", disse André Sougarret


COMEÇO DOS TRABALHOS

Durante a coletiva o trio que chefia as operações deixou claro que os trabalhos devem ter início à meia-noite de terça-feira, acrescentando que os padrões de segurança serão o Norte durante todas as etapas.

"Não há preferência em termos de começar o processo de dia ou de noite, se tivermos as condições de segurança. É isso que vai determinar a hora em que a operação de resgate vai começar", disse Laurence Golborne.


"Para podermos prevenir situações de risco, a única maneira é estarmos alertas para a segurança o tempo inteiro", complementou.



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