sábado, 16 de outubro de 2010

Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu
Emanoel Barreto

Em meio à disputa acirrada que vem sendo travada no segundo turno das eleições presidenciais, em torno de temas como a legalização do aborto e a união civil entre pessoas do mesmo sexo, a campanha do candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, distribuiu ontem, em evento com professores na capital paulista, santinho com a foto do presidenciável e a frase: "Jesus é a verdade e a justiça."


A afirmativa é do Estadão. O que não está dito é que a "acirrada disputa" a respeito de aborto e ligação e união civil entre homossexuais na verdade não existe; existe sim, enquanto fatos oriundos dos meios de comunicação, difundidos por esses mesmos meios de comunicação e enfatizados idem.

Foram os jornais, revistas e TVs ligadas a Serra que deram destaque a tais ninharias para desviar o debate político com o aproveitamento e a manipulação de pessoas cujas convicções estejam regidas por princípios religiosos ou moralmente mais conservadores.


O comportamento do tucano, ao agregar a seu discurso de fala atitudes dignas de um místico de camarinha ajoelhado frente a oratório e repetindo uma jaculatória, é dado precioso que permite analisar que tipo de ator político jaz oculto pelo biombo do confessionário: um homem que aceita dar-se a esse tipo de jogo para chegar ao poder praticamente a qualquer custo.


Cabe então uma pergunta: com essa mobilização de segmentos religiosos o que se pretende: a implantação, aqui, de uma república teocrática? Certamente não é isso. Difícil seria imaginar Serra, eleito, buscando aconselhar-se com algum colegiado de entidade mariana a fim de tomar decisões à luz divina. Não tenho fé de que isso venha a acontecer, especialmente porque ela não será eleito...


Tenho fé, todavia, de que ele enceta uma nova forma de Marcha com Deus pela Liberdade manipulando convicções íntimas de pessoas fervorosas, que veem nele um líder voltado a obras pias e sacras intenções - de última hora, diga-se de passagem.


O apelo à religião e à pátria são recursos extremos dos que buscam no nebuloso imaginário social forças e raízes de afirmação para utilizar-se desse mesmo social em proveito de uma ideologia e seus pregoeiros. Tenho fé de que tal intentona não virá a prosperar.

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