domingo, 10 de outubro de 2010

Interrogatorium dolorum in Dilmorum para que elorum digorum que é perigosorum

 Eles não querem debate; querem é ver Dilma num pau de arara: aí sim, ela iria dizer a verdade...
Emanoel Barreto

A campanha de Serra parece haver ingressado, jornalões a reboque, revistões também, numa espécie de obsessão compulsiva de encontrar indídios, quaisquer indícios, de que ele sairá vitorioso. Vitorioso de qualquer maneira, até me permito supor. Manipulam a interpretação de números de pesquisas, invocam lúgubres fantasmas de crianças abortadas, alertam ao perigo de totalitarismo, etc... etc... etc...
Hoje vem o debate da Band. Alardeia a Folha: "Há, porém, na base de apoio da candidata, um temor de que se instale um clima de crise caso ela não se saia bem no debate de hoje na Band." Por que não se admite a hipótese de que ela se saia bem? Uma análise de discurso superficial mostra que a intenção é passar ao leitor a sensação de que a candidata do PT fracassará. 


A mim, a sensação que o texto passa é a de que melhor seria um interrogatório, aquele ao estilo DOI-CODI, onde as vítimas eram colocadas num instrumento rudimentar de tortura conhecido como pau de arara. Aí sim, certamente supõem as maquinações mais obscuras de seus ids, ela "cantaria" e se denunciaria, afirmando-se como vermelha e agente do comunismo ateu.

Mas essas tempos passaram. E o debate na TV é apenas isso: um espetáculo, um programa de grade sazonal mas de qualquer maneira necessário à prática da democracia. Que venha o debate. Pelo menos não tem o pau de arara - mesmo que Serra esteja vestido de inquisidor-mor.
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Ainda sobre mídia encontrei este texto de Mino Carta em sua CartaCapital. É uma reflexão. Segue abaixo, parcialmente transcrito.


Patética mídia nativa
Mino Carta
 8 de outubro de 2010 às 10:54h

Ocorre-me recordar Claudio Marques, que se dizia jornalista como tantos outros dispostos a enganar o público e, eventualmente, a si próprio. Assinava uma coluna no Shopping News, jornal publicitário de circulação gratuita na São Paulo de 1975. Tempo de ditadura e de recrudescimento do Terror de Estado após o discurso dito “da pá de cal”, pronunciado no começo de agosto pelo ditador Ernesto Geisel para avisar aturdidos navegantes que “a distensão lenta, gradual, porém segura” haveria de sofrer uma interrupção. Foi nesta ocasião que Ulysses Guimarães, em pronunciamento na Câmara, comparou Geisel a Idi Amin Dada.

Pois Claudio Marques, caçador de comunistas agachados atrás de cada esquina, passava seu tempo a denunciar os vermelhos comandados por Vlado Herzog, a cujos cuidados estavam entregues os programas noticiosos da TV Cultura. Marques contava com a aprovação ampla, geral e irrestrita do DOI-Codi, ex-Operação Bandeirantes, e foi enfim premiado com a prisão, ou melhor, o sequestro dos jornalistas alvejados, a começar por Herzog, assassinado pelos torturadores no mesmo dia em que deu entrada no quartel do DOI-Codi. Dia 25 de outubro, um sábado.

Os tempos mudaram, felizmente. Não há mais torturadores e porões para hospedá-los e aos seus instrumentos, por exemplo. Há, entretanto, herdeiros de Claudio Marques afinados com os dias de hoje e ainda velhacos e daninhos. A semelhança entre o caçador de comunistas a serviço do DOI-Codi e esses jornalistas (jornalistas?) é percebida pela obsessiva preocupação que cultivam desde a primeira eleição de Lula com a quantidade de anúncios governistas nas páginas de CartaCapital. Trata-se, obviamente, de uma ofensa gravíssima ao pretender insinuar, com leveza de britadeira, que vendemos a alma ao Sapo Barbudo. Alguém, no meio da tigrada, proclama: CartaCapital não tem credibilidade.

PS do Coisas de Jornal: A CartaCapital tem credibilidade sim. E eles sabem disso.

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