Índio do Serra vai querer apitar na campanha
Emanoel Barreto
A manchete de primeira página da Folha diz que Lula cobra "ajuste" na campanha de Dilma. O jornal alega, para justificar a escolha desse assunto como principal destaque, que o PT estaria temeroso de perder a disputa presidencial por causa de assuntos como aborto, quebra de sigilos e o escândalo envolvendo a então ministra Erenice.
Com isso busca insinuar que a a campanha de Dilma está em crise. Na verdade, a crise está no PSDB, que cogita da substituição do vice de Serra, Índio da Costa. A crise, sim, está aí. O jornal, todavia, colocou a matéria no canto inferior direito da primeira página.
Quem entende minimamente de jornal sabe que manchetes, com sua tipagem gande, letras em negrito, falam duas linguagens: a primeira o conteúdo mesmo do discurso; a segunda é o enunciando insinuado pela formatação gráfico-visual: o leitor, acostumado com a leiura de jornais, depreende que aquele assunto está ali por que "é o mais importante". Assim, justificada pela mamchete, a "crise" do PT mereceria tanto destaque.
Trata-se de factoide somente existente na legalidade interna da mancha gráfica da página, sem maiores ligações com o mundo real.
Qualquer pessoa medianamente informada e esclarecida sabe que se um partido busca substituir de afogadilho um candidato não o considera suficienetemente capacitato à disputa; o candidato é menor do que o cargo. Falou-se até mesmo em convidar Gabeira para o lugar de Índio. O intuito seria agregar valor ideológico à candidatura Serra, uma vez que Gabeira é figurinha modernete e poderia arrepanhar votos de uma certa esquerda festiva.
Sim, a crise está com o grupo de Serra. Ao que parece, o PSDB busca prender água com as mãos. Todo mundo sabe desde criancinha que isso é impossível. E assim, o índio do Serra vai querer apito.
Abaixo, íntegra da matéria da Folha:
PSDB cogita troca do vice e depois recua
CATIA SEABRA
DE SÃO PAULO
Integrantes do comitê de José Serra à Presidência consultaram a assessoria jurídica da campanha sobre a possibilidade de troca do vice Indio da Costa (DEM-RJ) no segundo turno da eleição.
O advogado da campanha, Ricardo Penteado, desaconselhou a operação, alertando para riscos de perda do registro da candidatura de Serra.
Segundo relato de um tucano, integrante da cúpula da campanha e íntimo colaborador de Serra, a assessoria jurídica argumentou que a substituição do vice pode ser questionada na Justiça.
A avaliação de Penteado é de que, apesar de dúbia, a Constituição permite a interpretação de que o vice é também titular da chapa, não só o candidato em si. E, que passado o primeiro turno, o vice pode ser considerado como uma espécie de sócio da votação destinada à chapa.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmaram que a troca é permitida pela legislação.
Serra negou que tenha cogitado a substituição porque era "juridicamente inviável".
"Eu já sabia disso antes". Segundo democratas, o próprio Serra telefonou para Indio para negar qualquer intenção de substituição.
Alimentada por alguns integrantes da campanha, a ideia de substituição do vice nasceu da torcida pela ampliação do eleitorado de Serra no segundo turno. O nome de Fernando Gabeira (PV-RJ) chegou a ser cogitado.
Mas a proposta foi descartada porque a Lei Eleitoral não permite a indicação de um nome cujo partido não componha a coligação original do candidato.
Num segundo momento, ventilou-se a hipótese de o ex-governador Aécio Neves (PSDB) assumir a vice. Mas essa possibilidade foi desautorizada não só por orientação jurídica, mas por não se saber que impacto político provocaria sobretudo no Rio.
Segundo especialistas, para ocupar a vice Aécio teria que renunciar ao Senado.
O tema é controverso, uma vez que consulta feita ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 1994 indicou que esse tipo de substituição poderia provocar um desequilíbrio no processo eleitoral.
Para descartar o assunto, democratas lembraram que a troca só seria possível com a anuência do próprio Indio, que teria que renunciar.
Irritados com os rumores, democratas chegaram a se queixar da discussão de uma agenda negativa num momento em que Serra deveria buscar a união entre aliados.
Para debelar a crise, tucanos se apressaram para negar qualquer iniciativa nesse sentido. "Isso é um factoide", afirmou Aloysio Nunes Ferreira, senador eleito pelo Estado de São Paulo.
Ontem, Indio acompanhou Serra numa reunião com o governador e senadores eleitos em Santa Catarina. Na reunião, Serra ouviu a avaliação dos presentes sobre a qualidade do programa de TV. Segundo participantes do encontro, ele prometeu um embate mais político.
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Colaborou FLÁVIO FERREIRA, de São Paulo
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