terça-feira, 5 de outubro de 2010

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Agora é a campanha "do bem contra o mal"
Emanoel Barreto

Agora, o tom da campanha de Serra, pelo menos no que diz respeito à sua aliada Folha de S. Paulo, estará voltado para o factoide "aborto como programa de governo". Essa e a manchete do jornal: "PT já discute retirar aborto do programa de governo".  Na matéria de página interna o jornal revela que o programa pró-aborto é na verdade um programa do partido, do PT, não do governo.

A troca de "programa de partido" por "programa de governo" não é tão sutil assim: a primeira acepção indica uma proposta partidária, a defesa de um ponto de vista do partido enquanto membro da sociedade civil; a segunda é política pública que sequer foi lembrada pelo governo Lula.

A Folha menciona também que isso seria uma forma de Dilma acalmar os "eleitores evangélicos", colocados como fator suposto para ascensão de Marina na votação.

O que se pretende com isso é criar na agenda pública um assunto tematizado, centrado em convicções religiosas e morais. Isso afasta o debate de assuntos relevantes, levando a campanha para a ideia maniquista do "bem", Serra que seria contra o aborto, e o "mal", figurado em Dilma, por pertencer a partido que acata a prática do abordo.

A campanha de Serra nesta segunda fase estará centrada no slogan de que ele "é do bem". A ideia será repassada a partir de jingle que diz: "Para o Brasil andar pra frente/ não tenha medo não/ o cara é bom/ e é do bem".

A respeito, informa a Folha: "Outro jingle lista ações de Serra, como o genérico e mutirão, numa tentativa de apresentar um candidato que trabalha para os mais humildes, "para cuidar de quem precisa". Serra, diz o jingle, "cuida do idoso, da gestante e do neném".

Trata-se da criação de um não-acontecimento, o falso debate em torno do aborto, surgindo Serra como ator milenarista a salvar a família brasileira e seus valores como se estes estivesem em jogo, não o andamento de uma campanha política eivada, como deve ser, de ideologia e dissenso das classes. 

O que se busca é a ocultação do uso ideológico do aborto em substituição dos grandes temas que englobam o desenvolvimento e os reclamos da classe trabalhadora. O trabalhador passa a ser chamado de "povo" entidade anistórica enquanto aglomerado humano regido por  tradições e costumes. O povo só assume historicidade quando se lhe apega a condição de não-elite, de despossuído.


Usar falsamente a questão periférica do aborto como tema de campanha é arte marqueteira a manobrar pronunciamento que desvia a foco do debate. Assim, esperemos, este segundo turno promete.


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