domingo, 3 de outubro de 2010

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O importante é ver Dilma perder, mesmo que só na manchete
Emanoel Barreto

A Folha vem se socorrendo de artifícios jornalísticos, ou melhor artifícios jornalísticos não, artifícios de propaganda, para levar a parcela do eleitorado a compreensão de que ainda há alguma chance de vitória, mesmo que remotíssima, de José Serra num também eventualíssimo e ainda virtualísimo segundo turmo.

O título da manchete na reprodução ao lado é bastante claro e expressa a vontade do jornal de que haja segundo turno. Na verdade o texto dá a entender que Serra vinha disputando lado a lado com Dilma e havia sempre uma expectativa de segundo turno. É uma espécie de otimismo Red Bull: só dura enquanto o efeito da bebida resiste. Depois, é como vontade: dá e passa.

E assim o jornal dos Frias vai trabalhando as suas manchetes. Na edição de ontem falava que um "assessor do governo" havia atirado cem mil reais pela janela e sugeria que era um assessor de Lula. Não era. Era do governo do Acre.

Outro aspecto merece ser destacado: as fotos dos candidatos estão trabalhadas a sobrepor ao discurso fotográfico o discurso propagandístico. Lembrando uma obra de Andy Warhol, a composição sugere clima tropicalíssimo, o grito das passeatas a alegria que se distribui ao eleitor em tempo de campanha. O jornal assume atitude expressionista para colocar Serra, em destaque, no centro da composição.

Renovado em pelo menos 20 anos, o neoliberal atrai necessariamente o olhar do leitor e foi isso o que se quis: fazer da primeira página da Folha um folheto da campanha de Serra. Conseguiu. Pelo menos nisso a Folha acertou.




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