domingo, 20 de março de 2011

O poder que pode, na voz que manda

No discurso feito no Theatro Municipal do Rio, o presidente Obama, utilizou-se de retórica, digamos assim, atrativa: citou que no auditório havia "cariocas", "paulistas", "mineiros" e "baianos". Assim mesmo, em português. Com isso buscou estabelecer laço de aproximação, como se conhecesse a fundo as diversidades nacionais. Mais que isso, lembrou que às portas, em frente ao teatro, houveram as grandes manifestações contra a ditadura. Foi aplaudido. Mas não disse que a ditadura teve seu punho, seu braço de ferro, apoiado pelos EUA; que havia navios de guerra americanos em nossa costa, com tropas prontas ao desembarque caso o golpe de 64 não se processasse com a eficácia desejada pelo seu país. 

Elogiou Dilma e sua coragem de lutar contra a ditadura. Mas nada disse quanto ao fato de que à época da prisão ela era militante de grupo armado e em movimento bélico aberto contra a ideologia que ele, e agora ela, unidos pelos tortuosos caminhos da política, defendem. É como se a ditadura brasileira também tivera repúdio norte-americano. É como se numa kafkiana, ionesca modificação de fatos históricos, os Estados Unidos e a hoje presidente tivessem ligações orgânicas profundas, enraizadas desde o processo ditatorial brasileiro.

O jornalismo de festim elogiou enormemente o discurso obamiano. A vinda do mandatário americano se dá unicamente em face das mudanças que se processam no chamado mundo árabe, que coincidem com o fortalecimento de nossa economia. Taticamente, é preciso fortalecer a parceria com o Brasil. Atende aos interesses americanos. Pode até, de alguma forma, atender aos nossos. Mas querer fazer parecer que os EUA são "amigos" é coisa bem diferente. Muito diferente.


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