quinta-feira, 24 de março de 2011

Veja só o que faz o jornalismo declaratório, sem que o repórter tenha reação questionadora. É da Folha a matéria. Meu comentário vem logo abaixo do texto do jornal.

Schwarzenegger se diz contra construção de hidrelétricas

MARIANA BARBOSA
DE MANAUS
O ator e ex-governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, se juntou ao diretor James Cameron na luta contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Na abertura do Fórum Mundial de Sustentabilidade, que acontece em Manaus até sábado, Schwarzenegger afirmou que a água é uma fonte "fantástica" de energia, mas que "a construção de barragens, com o consequente desalojamento de pessoas e animais, não é sustentável". 

O ex-governador defendeu o uso de energias alternativas como solar e eólica e afirmou que o Brasil tem muito a aprender com a Califórnia. "Estamos construindo o maior painel solar do mundo na Califórnia." 

Schwarzenegger: defensor do meio ambiente
Na quarta-feira, antes do início do evento, Schwarzenegger acompanhou Cameron em uma visita a comunidades indígenas no Pará, localizadas no entorno das obras da usina. "Ninguém pode vir até Manaus e não visitar a floresta, foi um dia muito inspirador. Aqui em Manaus você pode sentir o poder da natureza que nos circunda." 

Segundo o ex-governador americano, para conseguir promover mudanças no campo ambiental, é preciso mudar o discurso de "medo" e "culpa" com relação ao meio ambiente, com discursos científicos catastróficos sobre mudanças climáticas ou de responsabilização de pessoas que usam carro ou sacolas de plástico. "A mudança virá da base da sociedade, e as pessoas precisam se envolver emocionalmente, precisamos fazer com que 'agir de verde' seja sexy". 

Cameron elogiou o ex-presidente Lula e a presidente Dilma, mas criticou a falta de políticas a favor de energias renováveis. "Vocês aqui têm muito sol, mas apenas 1% da matriz energética vem do sol ou do vento. Na Alemanha, que depende muito de carvão e tem bem menos sol do que o Brasil, obtém até 20% da sua energia do sol e do vento. Vocês também podem fazer isso." 

ETANOL
Schwarzenegger elogiou o programa brasileiro de etanol e como o país conseguiu reduzir a dependência em relação ao petróleo. "Vocês são inteligentes ao produzir etanol de cana-de-açúcar. Mais do que a gente usando milho. Espero que vocês consigam exportar etanol para os EUA, isso vai nos ajudar imensamente." 
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A entrevista foi centrada na força midiática, na personalidade dos dois famosos. Nenhum dos dois, ao que me consta, tem autoridade técnica para opinar a respeito do tema. Além disso, falta-lhes algo essencial para tratar do assunto: nenhum dos dois é brasileiro. Daí supondo que falta às suas assertivas algo essencial a um discurso digno de credibilidade: refiro-me a algo chamado sinceridade.

São americanos, portanto, têm interesse nas coisas do seu país e na exploração dos nossos recursos naturais em favor do gigante do Norte.

Schwarzenegger, então, faz um discurso chão, tolo, uma platitude: diz que é preciso criar o que entendi como sendo uma consciência sexy verde, a fim de que ser defensor da natureza transforme o indivíduo em alguém da moda, percebe? É tão rasteiro seu pensar, que o conservadorismo - não conservacionismo - do ator sinaliza que ninguém deve ter preocupação nem "sentir culpa" por usar automóvel ou entupir o mundo com plástico. Isso não foi questionado. Ou se foi não está dito no texto da Folha.

Ambos jogam culpa no Brasil pela construção da barragem, mas não referem ao fato de que seu país é um poluior em alto grau e defende o uso de energia nuclear. Somente para lembrar, Schwarzenegger - que nome! - em seus filmes, é o Exterminador do Futuro. É pouco ou quer mais?


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