sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Folha trata assunto sério como caso de fofoca
Emanoel Barreto

Apesar de gabar-se da qualidade do seu jornalismo, a Folha de S. Paulo dá uma demonstração de como funciona sua Redação. Em entrevista como o empresário Sílvio Santos, encalacrado com as dívidas milionárias do seu banco, foi procurado por telefone para falar a respeito do assunto.

Errou o jornal ao tratar de assunto de tamanha importância por telefone. Qualquer foca sabe que esse tipo de entrevista só deve ser feita, em casos assim, se não houver outra forma de contato. Pelo telefone há um natural empecilho. É cansativo conceder entrevistas mais longas e a fonte pode cortar a qualquer momento a comunicação. 

Além disso, Santos transformou a conversa num bate-papo, tirando-lhe todo o caráter que uma entrevista desse tipo deve ter: seriedade. A jornalista não o questionou a respeito da quebradeira do banco, a qualidade da gestão, as consequências disso no mercado setorial. Nada. Ingressou no jogo do empresário e o resultado foi a "entrevista" que transcrevo abaixo. 

"Se pagar bem, claro que vendo o SBT"

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O empresário Silvio Santos atendeu ontem à noite, em sua casa, a um telefonema da Folha. Ele disse que, se alguém pagar o que ele deve ao FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que emprestou à sua holding dinheiro para cobrir o rombo do banco PanAmericano, pode comprar o SBT. Leia entrevista.

 
Folha - Eu gostaria que o sr. desse uma palavra para o público sobre tudo o que está acontecendo no banco.
Silvio Santos -
Não posso porque eu assinei um termo de confidencialidade. Eu assinei um termo de conf... confidencialidade... é até difícil de falar! Não posso comentar nada. Só quem pode falar é o Fundo Garantidor de Crédito. 

O sr. se encontrou com o Lula. Falou com ele sobre isso?
Que Lula? 

O presidente.
Estive com ele falando sobre o Teleton [programa que arrecada recursos para a AACD]. Ele está me devendo R$ 13 mil [risos]. Tive que dar por minha conta porque ele prometeu e não deu os R$ 13 mil [que disse que doaria]. Eu falei para ele: "Se você der R$ 13 mil, a Dilma pode ganhar a eleição". Porque é o número dela, não é? Não é 13 o número da Dilma? "Pode ser que Deus te ajude e ela ganhe a eleição." 

E ela ganhou do mesmo jeito.
Mas aí é que tá: agora tô preocupado [risos]. Ele fez a promessa e não cumpriu.
E o senhor votou nela?

Eu estou com 80 anos. Você acha que eu vou sair de casa para votar? Vou votar é em mim mesmo aqui em casa. 

E aquela história da bolinha [reportagem do SBT afirmou que o candidato tucano, José Serra, foi atingido, numa manifestação, por uma bolinha de papel, e não por um objeto mais pesado, como ele dizia]? Todo mundo está falando que o SBT fez a reportagem porque estava com problema no banco.
Mas que bolinha? 

A bolinha que caiu na cabeça do Serra.
Caiu alguma coisa na cabeça dele? [risos] Caiu alguma coisa na cabeça dele?

Na campanha.
Ah, não foi hoje? 

Não.
Ah, eu não sei desse negócio de bolinha, não. Isso aí, olha, eu não vejo TV. Televisão, para mim, é trabalho. Só vejo filme. Agora que você ligou para mim eu estava vendo a Fontana di Trevi. Você já viu esse filme, "A Fonte dos Desejos" (de Jean Negulesco)? Eu estava vendo agora. 

E essa informação de que o empresário Eike Batista quer comprar o SBT?
No duro? 

É.
Ah, me arranja! Arranja para mim que eu te dou uma comissão. 

O senhor venderia?
Se ele me pagar bem, por que não? Quem é? "Elque"? 

Eike, um dos homens mais ricos do Brasil.
Ele é americano? Eike? 

Brasileiro.
Não, não conheço. Mas, se ele pagar os R$ 2,5 bilhões que estou devendo, vendo, é claro que vendo. Não precisa nem pagar para mim, paga para o Fundo Garantidor de Crédito. Eu não posso vender nada sem passar pelo Fundo Garantidor de Crédito.

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