sexta-feira, 12 de novembro de 2010


O Marquês de Camisão responde em tom comovido à carta de Alberany, o abominável, e anuncia que será um faraó, pretendedo escravizar a todo o povo.
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Digníssimo Sr. Alberany, o abminável, o que vos digo, em acorde altuístico e sincero, eis.

Recebi com emoção candente o plenilúnio de vossas palavras evolado. Eis-me então, senhor que sou de muitos poderes, presa de tais e engrandecedoras palavras. Ó, digno homem bom! Ó, magistral figura de múltiplas artes e engenhos! Sois portador de novas tão boas que a emoção de minh'alma delas não se ombreia, tão altos são vossos encômios. 

Sim, meu caro Sr., tendes planos destros e lestos e deles quero ser parceiro e parte, anfitrião e suporte encorajador.Vossa Mercê é digno de compartilhar de meus objetivos, intentos e projetos. Tenho para mim que homem de minha condoreira altitude precisa entrar para a História e ser estudado no futuro como exemplo e marco a fazer sombra a seu próprio tempo.


Destarte, digo-vos que conto com vossa prestimosidade para a realização de augustos propósitos. Quero altear-me a Alexandre, o Grande, e a César, a Gengis Khan e a Átila, a Nero e a Calígula, e, acima, de tudo a Tutankamon. Este, especialmente este, é meu modelo e espelho histórico, cuja vida reviverei a pleno fausto.


Assim, digno-vos Sr., Vossa Mercê será favorecido para ajudar-me  a levar adiante tão esplendoroso empenho. Como faraó que serei - e para isso tereis papel preponderante -, preciso determinar o mais rápido possível sabe o quê?, o início das obras da minha pirâmide.

Será obra prima e grandiosa manifestação da mais alta engenharia. E no futuro, daqui a muit'anos, algum arqueólogo virá a descobrir minha pirâmide e admirar o meu sarcófago. Fazer estudos sobre quem fui e todo o bem que perpetrei. Eia!


Para tanto, urge dizer, recolheremos dinheiro dos ricos e dos pobres e até El Rey será chamado a depor suas moedas em nossas sacolas. Percorreremos os paços reais e os mais obscuros tugúrios, os palácios e os juizados, as assembleias e os ambientes dos maiorais e grandiosos. E todos recolheremos, à força de argumentos variados, desde negociações até ameaças e chantagens, tudo o que se nos for necessário. 


Para que tenhais livre trânsito nos palácios, conseguir-vos-ei o título de baronete. E atingida a fidalguia sereis figura de proa nesta nau tão bela. 


Seguem-se os meus planos: mobilização de toda força popular possível. Como faraó, será do meu gosto, e mui, que homens, jovens e meninos sejam postos a ferros e em seguida trazidos à construção do monumento. Carregarão pedras colossais como se fossem pequenos ciclopes a trabalhar pela glória do seu senhor, eu.


Para domar o povo serão instituídas leis, pois para isso é que servem as leis. Estabelecida a escravidão geral, teremos à mão toda a força muscular a ser prescrita. E quem resistir será proscrito e pagará bem caro o preço da sedição. Será dito a todos que é crime se voltar contra o interesse público. E o interesse público será a minha pirâmide, real interesse de Estado.


E se a lei ainda assim não dobrar o povo, apelaremos para atos poderosos. Levaremos às ruas vossos mandriões e vossas bruxas e todos perseguirão o povo. Os primeiros apanhando os que puderem, levando-os a tão venerável projeto. As segundas pronunciando vaticínios e anunciando o mal que recairá sobre os insurretos com a força das pragas do Egito, o que aliás será de boa temperança uma vez que faraó o sou. 


Construiremos máquinas ciclópicas para o transporte e o erguimento dos matacões, alevantando-se assim minha grandiosa e lúcida quimera.


Eis pois, meu caro, e já vos trato por baronete, os meus propósitos. Espero-vos para reunião o mais tardar amanhã, a fim de que possamos dar largada a tão monumental e grandiosa obra.


Deste que vos preza e estima, ó magnífico patife.


Marquês de Camisão.

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