sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Recebop e publico texto de Maurício Mota, a respeito do II Festival de Teatro no Rio Grande do Norte

*Definições definitivas?*

No último dia 22 de setembro fui até o Teatro Alberto Maranhão pensando em
inscrever dois de meus trabalhos de dança-teatro, “*Sente-se*” e “*Experimento

nº1*”, produzidos pela [sí-la-bAs] *c. dança* no II Festival Agosto de

Teatro, promovido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte, através da

Fundação José Augusto. Para minha surpresa, fui impedido de fazê-lo sob a

alegação de que a palavra “Dança”, presente na definição da forma artística

utilizada na concepção e realização destes trabalhos, impedia

automaticamente a possibilidade de, sequer, apresentá-los a curadoria do

festival. O mesmo aconteceu com o projeto MOBILIDADE - grupo de pesquisa e

experimentos em dança e teatro, que tentou inscrever seu trabalho “*Incolor*”.






Eu pensei estar em uma máquina do tempo. De repente estávamos no século 19.

Velhos preconceitos e visões arcaicas sobre a dança, e sobre o próprio

teatro, surgiam na minha frente como se o mundo tivesse parado de girar a,
pelo menos, 100 anos.


Frases como: “Quando for um festival de dança, então você pode se
inscrever!”, ou, pior ainda, “A dança não possui estrutura dramática e por
isso não pode ser considerada teatro!” foram ditas tranquilamente. Antes que
alguém dissesse: “A terra é plana!”, eu fui embora.


Natal tem hoje, dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
cursos de licenciatura em dança e teatro e a relação híbrida entre estas
duas formas artísticas, um dos elementos primordiais na dança-teatro, são
discutidas e aprofundadas todos os dias. Infelizmente, ao que parece, esta
discussão ainda não chegou aos ouvidos daqueles que gerem, ou digerem, a
cultura local.

Uma obra como “Café Müller”, de Pina Bausch, considerado um dos mais
importantes e revolucionários trabalhos teatrais da 2ª metade do sec. XX,
provavelmente seria excluída do festival, por não ter texto, por não haver
alguém “falando” em cena.

Hoje a troca de informações e experiências tornou-se muito mais forte e
extremamente relevante na produção artística em todos os cantos do mundo.
Infelizmente parece que alguns preferem não ouvir, não saber.


Talvez eu devesse ter chamado meus trabalhos de “Teatro coreográfico” (seria
uma pegadinha e tanto).

Parabéns a todos os trabalhos selecionados, muito sucesso a todos os grupos,
atores e diretores e espero que encontrem uma grande e calorosa recepção por
parte do público. Estamos torcendo por vocês.

Mauricio Motta
Diretor Artístico
[sí-la-bAs] c.dança
http://silabascdanca.blogspot.com/
silabascdanca@yahoo.com.br

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