Discutindo a UFRNcrescimento sim, mas com humanização das condições de trabalho
(I)
Maria Arlete Duarte de Araújo
Professora Titular – DEPAD/ Centro de Ciências Sociais Aplicadas
Nos últimos dois anos a UFRN, graças ao Programa REUNI do governo federal, teve um enorme crescimento: novos cursos de graduação e de pós-graduação mudaram a paisagem do Campus através de novas edificações – salas de aula, ampliação da biblioteca, laboratórios. Se, por um lado, o crescimento é inquestionável, o mesmo não se pode dizer da infra-estrutura que o apóia. Aqui, de partida um esclarecimento do que estamos entendendo por infra-estrutura. Toda instituição, para funcionar, demanda um conjunto de processos: políticos, comunicacionais, decisórios, operacionais, motivacionais e de controle. Sem que esses processos sejam suficientemente articulados, há um desequilíbrio que compromete a qualidade das atividades realizadas.
É nessa perspectiva que estamos entendendo infra-estrutura – uma rede de processos e fluxos que apóiam o “que fazer” da Universidade e, por conseguinte, viabilizam o trabalho de professores e corpo técnico-administrativo. Logo, o nosso foco recai sobre as condições estruturais que articuladas viabilizam a realização das atividades acadêmicas e administrativas, e não apenas sobre o que o senso comum chama de infra-estrutura (prédios, pessoas e equipamentos).
Diz a experiência e a ciência que, se não houver articulação entre esses processos, ocorrerá um desequilíbrio profundamente comprometedor da qualidade das atividades realizadas pela instituição. Evidente que o crescimento experimentado pela nossa Universidade é bastante positivo. Contudo, ao ouvirmos os reclamos de professores, alunos e técnicos - administrativos em relação às suas práticas cotidianas, a pergunta é inevitável: nossos processos estão em sintonia com o crescimento e as exigências que o mesmo impõe?
De partida, no que se refere à articulação necessária entre estrutura física e processos operacionais, ainda há muito por fazer. As salas de aula, por exemplo, hoje com bem mais alunos, continuam, na sua grande maioria, sem os equipamentos adequados para facilitar o trabalho pedagógico, forçando professores e alunos a constantes deslocamentos e à disputa pelas poucas salas que apresentam equipamentos adequados ao ensino. Além disso, o professor atua sob a pressão da lógica da produtividade e da competição, predominantes no mundo acadêmico, tendo de se desdobrar para assegurar a taxa de eficiência dos cursos, as publicações, as orientações, a corrida pelos editais e várias outras atividades não computadas plenamente na sua avaliação individual.
No caso dos professores recém-admitidos, estes não só têm de enfrentar de pronto essa realidade, como não existem ações ou dispositivos de acolhimento que lhes ajudem a amenizar o stress e a angústia iniciais, e abreviar a inserção nesse novo mundo profissional. Assim, todos os docentes, antigos e novos, têm de enfrentar tudo sozinhos, pois não há espaços institucionais que lhes permitam refletir e agir coletivamente sobre essa realidade.
De modo idêntico, o corpo técnico-administrativo tem sofrido o impacto do crescimento – maior volume de processos, maior volume de compras, maior número de atendimentos - sem que haja espaços de debates e reflexão sobre as novas demandas. Tudo isso é claro tem conseqüências diretas na relação aluno/professor e no processo ensino/aprendizagem, com perda no sentido pedagógico e na condução das atividades administrativas, provocando um distanciamento entre a gestão e os servidores, um certo processo de alheamento deles, de suas necessidades e aspirações. A ênfase é maior nos procedimentos e menor nas pessoas.
Um exemplo claro são os processos de controle, tanto dos professores quanto dos técnico-administrativos e dos alunos. Eles convivem permanentemente com uma burocratização excessiva dos seus fluxos de atividades. O cumprimento da regra ocupa centralidade, ao invés do foco no resultado ! Razoável parte do cotidiano do professor e do corpo técnico-administrativo é ocupado com exigências burocráticas, trâmites processuais e longa demora para solução de problemas, muitas vezes sem tanta relevância, prejudicando o bom andamento das atividades.
O tempo para a reflexão, o tempo para a pesquisa, o tempo para a atualização constante é muitas vezes sacrificado, para a glória da burocracia, que se torna auto-referida e impermeável à realidade e às exigências do trabalho cotidiano. Com relação ao trabalho docente, os valores acadêmicos são assim suplantados pelos valores burocráticos, como se não houvesse possibilidade de convivência entre eles.
Esses são alguns dos problemas que precisamos solucionar para alinhar o crescimento com a humanização das condições adequadas de trabalho. Em um momento de grande renovação da nossa instituição, tanto do corpo docente quanto técnico-administrativo, não podemos deixar que as nossas decisões e ações sejam dominadas apenas pela racionalidade instrumental. Necessitamos de um novo olhar que permita o crescimento da instituição mas também o crescimento e a realização profissional das pessoas que cotidianamente contribuem para consolidar o desenvolvimento da UFRN.
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