Mistérios da meia-noite
Emanoel Barreto
Na foto de Everson Andrade a demonstração de enorme talento. Olhar felino, o jornalista nos dá intrigante visão de mundo: um mundo estranho, sombrio. Compôs com mestria o gato preto e a inocência infantil ao fundo. Quer dizer: o ser humano, mesmo infante, em meio a um mundo que tem muito de mistério, assombrações cotidianas. O que somos? É tudo racional ou entra uma gota de indagação, a mesma indagação que nos leva à percepção de uma vida passada em meio ao mágico, às lendas, à incerteza entre a religião e a ciência?
A foto tem algo do assombro de Edgar Allan Poe em seus aspectos de terrível encanto, ameaça silenciosa. Mas, ao mesmo tempo, é encantadora e epifânica.
O jogo com a luz é perfeito. Um pequeno universo ocre rodeia às crianças-homem-em-meio-a-seu-mundo, o que significa o temor mesmo de sermos homens. Mas a luz azul contrasta e se avulta e nos insinua o belo, o instante de resistir, a delicada coragem de estar-no-mundo. Enfim, um belo trabalho, pleno de signos e exultante de criatividade.
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