O bem-te-vi e outros passarinhos
Walter Medeiros - waltermedeiros@supercabo.com.br
No silêncio da manhã um passarinho canta pousado num galho alto de uma grande árvore
com a qual cruzo frequentemente. Parece um pássaro que eu ouvia há mais de quarenta
anos, nas minhas manhãs de infância serrana. Não o vejo nem me detenho para
procurá-lo e fico esperando o som da cigarra, que não vem, pois as minhas cigarras
pensamento nenhuma vontade de aprisioná-lo ou atingi-lo.
Naquele tempo eu tinha uma baladeira e cheguei certa vez orgulhoso da minha
pontaria, por ter acertado um passarinho num galho distante, como se aquele tiro não
fosse idêntico ao controle de um acerto de uma chimbra (é assim que se chama biloca
naquele lugar onde morei). E lembro do meu irmão, Wellington, esboçando sério
remorso por ter acertado um pássaro que não morreu, mas ficou sem condições de voar
imediatamente. Vez por outra, no almoço do domingo, meu sogro lembra do seu tempo de
caçador, quando pastorava os pássaros à beira de uma lagoa. Eram dezenas e ele se
aproximava com a espingarda de soca. Fazia um barulho para espantá-los e quando
levantavam vôo eram atingidos em grande quantidade, caindo para alimentar a diversão
de jovens e adultos, quando o IBAMA e o IDEMA ainda nem existiam.
Quando conversava com meu pai, além das histórias que me contava como ex-combatente
da Segunda Guerra, ele gostava de lembrar dos seus tempos de Jucurutu, onde nasceu,
e na sua escola primária ganhou um prêmio por ter recitado de forma brilhante o
conhecido poema "Pássaro Cativo" , de Olavo Bilac: "... Por que me prendes?
Solta-me covarde! Deus me deu por gaiola a imensidade: Não me roubes a minha
liberdade ... Quero voar! voar! ..."
Vem também a lembrança daquela história engraçada sobre o mentiroso que apareceu
correndo na bodega que freqüentava e perguntaram o que estava procurando: "-estou
atrás do meu canário, que fugiu com gaiola e tudo.". Meus cunhados gostam muito de
pássaros e conhecem muitos deles. Mas eu só consigo distinguir as lavadeiras, as
pombinhas e os pardais que pousam no meu quintal diariamente. Bem como alguns outros
pássaros, como os canários, anuns e outros que simbolizam partidos políticos. E as
corujas, paixão de nossa amiga manauara Conceição.
Para se ter uma idéia de como os passarinhos estão em todos os nossos momentos,
quando Waltinho estudava no jardim de infância seu irmão Bruno ia buscá-lo e uma
"Tia" (professora auxiliar) se apaixonou por ele. Mandou um bilhete pelo menino,
para Bruno, com uma quadrinha: "Eu queria ser um passarinho / Um passarinho eu
queria ser / Prá pousar em tua janela / Quando o dia amanhecer". Tomando
conhecimento do fato, uma pessoa brincalhona (não fui eu, foi Mônica) resolveu fazer
uma resposta e enviar pelo mesmo portador: "Queria ser um caçador / Um caçador
queria ser / Prá matar o passarinho / Quando ele aparecer".
Minha cunhada, Fátima, entretanto, vai me perdoar, mas tenho de lembrar que não tem
maiores conhecimentos na área, literalmente. Na área da minha casa, certo domingo,
ouvíamos um som que vinha da frondosa árvore que meu vizinho de frente, Murilo(Uai)
trouxe de Caicó há mais de vinte anos: "Híiin! Híin! Híin!". Ela indagou a seu
Sebastião, meu sogro, que pássaro seria aquele. Do alto dos seus noventa anos (ele
vai completar 94 dia 10 de outubro de 2010), ele disse: "é um Bem-te-vi". Ela
rebateu: - "não, papai, lá em casa tem desses pássaros e não é Bem-te-vi".
Pacientemente ele reafirmou: "é, Fátima, um Bem-te-vi". Quanto ela se preparava para
argumentar mais, o pássaro tirou a dúvida, com seu canto forte e tão belo:
"BEM-TE-VI!!!".
Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://i.olhares.com/data/big/286/2863044.jpg&imgrefurl=http://br.olhares.com/bem-te-vi_pitangus_sulphuratus_foto2863044.html&usg=__AYk4_2YsHCDEhLMKAT78Pf9dHE4=&h=586&w=750&sz=112&hl=pt-BR&start=33&sig2=chWbtStrKLXmHBPwKO5F6w&zoom=1&tbnid=x9_d_NkmNq_0qM:&tbnh=114&tbnw=158&ei=m8KgTNXGK8LflgfE0NCZDg&prev=/images%3Fq%3Dbem%2Bte%2Bvi%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26safe%3Doff%26sa%3DN%26rlz%3D1I7GGLL_pt-BR%26biw%3D1003%26bih%3D534%26tbs%3Disch:10%2C952&um=1&itbs=1&biw=1003&bih=534&iact=rc&dur=354&oei=asKgTPXHHYH78AbIl7D-DA&esq=3&page=3&ndsp=17&ved=1t:429,r:6,s:33&tx=88&ty=41
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