Emanoel Barreto
A matéria abaixo está na Folha e dá conta de que Dilma venceria no primeiro turno. Traz, além disso, um detalhe de qualidade: apesar da fuzilaria da grande mídia, Folha em destaque, contra a candidatura da petista, nada, nada mudou o voto já cristalizado do eleitorado.
A informação enfática da mídia em torno do assunto - essa a explicação do fenômeno - é apenas isso: a informação enfática da mídia em torno do assunto. Falta-lhe, para ter legitimidade, repercussão na vida cotidiana das pessoas. Ou seja: os jornais e TVs acusam Dilma e o PT de uma enxurrada de coisas que a rigor não vão mudar as vidas de ninguém, para melhor ou pior.
Saber que se está dizendo que alguém fez algo supostamente errado não tem tanta importância prática no contexto do cotidiano quanto saber, por exemplo, que a inflação está descontolada e que com isso o preço da gasolina irá disparar. Se o PSDB conseguisse anunciar isso - e não vai porque não há condições de contexto histórico para tanto - aí sim a candidatura Serra poderia decolar. Em caso contrário, não.
O que o cidadão vê, lê e ouve é apenas isso: um troca-troca de palavras via TV e jornais; um acontecimento-nada, vazio de sentido social. E, o que é pior, um troca-troca de palavras que se dá somente nas manchetes, ausente dos grandes problemas nacionais, distante da realidade de quem está espremido num ônibus ou num metrô, sofre com o atendimento na saúde, teme os traficantes... mas teve alguma forma de elevação em seu salário.
Até Serra está se recusando a discutir essa tal quebra de sigilo por haver percebido que é pura perda de tempo (leia matéria em post de ontem, onde ele briga com apresentadora que o queria interrogar a respeito). Enfim, tudo se encaminha para a derrota de Serra. Sua campanha sempre padeceu de um sentido de causa, faltou-lhe conteúdo, faltou-lhe discurso, faltou o que prometer.
Para encerrar: mesmo dizendo que Dilma venceria no primeiro turno, a Folha deu manchetona de primeira página falando em escândalo. Manchete desse tipo, em suas linhas, letras garrafais, seguidas de subtítulo detalhado somente para grandes casos. E o jornal, querendo forçar os acontecimentos, busca produzir um acontecimento-manchete que, todavia, é apenas isso, um acontecimento-manchete, um acontecimento-nada.
.....
Abaixo, a matéria da Folha.
Dilma tem 51% e venceria no 1º turno
FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
Apesar do intenso noticiário das últimas semanas sobre a quebra dos sigilos fiscais de tucanos, a corrida presidencial entrou em fase de alta estabilidade nas taxas de intenção de voto dos principais candidatos. Dilma Rousseff (PT) venceria a disputa no primeiro turnos e a eleição fosse hoje. Segundo pesquisa Datafolha nos dias 13 a 15 deste mês com 11.784 entrevistas em todo o país, a petista tem 51%. Oscilou um ponto percentual para cima em relação ao levantamento anterior, dos dias 8 e 9.
A margem de erro máxima é de dois pontos, para mais ou para menos. Quando se consideram só os votos válidos, os dados apenas aos candidatos (excluindo-se os brancos e os nulos), Dilma vai a 57%. José Serra (PSDB) ficou exatamente como há uma semana, com 27%. Marina Silva (PV) também repetiu sua taxa de 11%. Em votos válidos, o tucano tem 30%. A verde fica com 12%. Há 4% que dizem votar em branco, nulo ou nenhum. Outros 7% se declaram indecisos. Os demais seis candidatos não pontuaram, segundo o Datafolha -que realizou a pesquisa sob encomenda da Folha e da Rede Globo.
ESCÂNDALO DA RECEITA
O levantamento comprovou que teve impacto mínimo até agora, quase imperceptível, o escândalo da quebra de sigilo de tucanos e da filha de Serra, Veronica. O Datafolha apurou que 57% dos eleitores tomaram conhecimento do assunto. Mas, apesar de a maioria conhecer o caso, só 12% se consideram bem informados a respeito.
As taxas de maior conhecimento estão entre os mais escolarizados (86%) e os que têm maior renda mensal (84%). Mas esses segmentos são minoritários no eleitorado e não provocaram alterações no quadro geral.
Numa estratificação apenas dos que se declaram mais bem informados, a taxa de intenção de votos de Dilma fica em 46% (contra os 51%no cômputo geral). Serra vai a 33% e Marina oscila para 14%. Ou seja, a soma do tucano com a verde daria 47%, e o cenário seria de um possível segundo turno.
No outro extremo, entretanto, quando são separados apenas os eleitores que nunca ouviram falar do caso da quebra de sigilos fiscais de tucanos, Dilma vai a 53%, Serra desce a 24% e Marina pontua apenas 8%. A estabilidade do quadro geral apurado pelo Datafolha também aparece em quase todos os segmentos pesquisados pelo instituto.
SEGUNDO TURNO
Na simulação de segundo turno, Dilma venceria com 57%, contra 35%de Serra. Os percentuais eram 56% e 35% há uma semana. Do ponto de vista geográfico, as únicas variações significativas e além da margem de erro ocorreram no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Brasília e em Belo Horizonte. Dilma perdeu oito pontos em Curitiba (PR) e voltou a ficar atrás de Serra nessa capital. A petista tem 28%, contra 36% do tucano. No Paraná como um todo, ela recuou cinco pontos -mas ainda lidera por 41% a 35%.
A petista também piorou seu desempenho em Brasília, saindo de 51% para 43%, mas continua líder porque Serra está com 21%. No Rio Grande do Sul e em Belo Horizonte ocorreu o inverso, com Dilma melhorando seu desempenho.
Entre os gaúchos, a petista foi de 43% para 45%, e Serra desceu de 38% para 34%. Na capital mineira, a petista foi de 40% para 44%. Serra oscilou de 23% para 25%.
Nenhum comentário:
Postar um comentário