sexta-feira, 17 de setembro de 2010


Morte, dor e fama, muita fama
Emanoel Barreto

A obra do artista Gil Vicente é feita para chocar. Truísmo à parte o que se vê é o trabalho de alguém que quer expressar alguma forma profunda de "ódio ao sistema", colocando-se o autor como sicário ou algoz de duas vítimas indefesas.

O trabalho pode ser analisado sob o prisma da estética da crueldade de Antonin Artaud. O poeta francês defendia uma "arte cruel". Aqui no sentido de uma arte que expressasse de forma crua um certo dado do real.

Ao assumir-se como personagem de sua própria obra, o autor evoca, para antagonistas de sua protagonização, duas figuras emblemáticas da política nacional sobre eles despejando todo o seu ódio. O negativismo intenso, o niilismo exacerbado se volta até mesmo contra os que veem o quadro uma vez que os coloca como um aquém integrado a este mesmo quadro e, portanto, participantes  do establishment que as duas vítimas representam, segundo a ótica do artista.

FHC como o sociólogo de esquerda, o medalhão ideológico que aderiu por inteiro ao neoliberalismo; Lula enquanto ator também de esquerda que teria "traído" a classe operária ao ligar o PT a forças conservadoras como o PMDB.

Gil Vicente não se pejou de colocar-se como um fanático, um carrasco que executa dois seres humanos cujas expressões faciais indicam profundo abatimento, amarrados, jugulados a um ser impiedoso que os executa de forma meticulosamente cruel.

E isso num tempo em que se busca a paz, o consenso, a civilização por oposto ao ato ali representado. Quer certamente ser amaldiçoado e será. No fundo o discurso do quadro implora para que o criador seja execrado, com isso alcançado fama, muita fama. É, é isso: fama, muita fama.

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