sábado, 25 de setembro de 2010

 Estamos em Bogotá: nas ruas a polícia; e enormes cães caminham até você
Emanoel Barreto


Vivendo três dias em Bogotá para participar de encontro de professores de jornalismo tive a experiência de ver um povo e seu diário convívio com o medo. Em bares, ruas, restaurantes; no aeroporto e em pontos turísticos, em táxis e locais de grandes aglomerações soldados por todo lado olham você com desconfiança. Vigilantes de empresas particulares caminham ao lado de cães de grande porte. Nas revistas a que fui submetido nada escapou: desde a bolsa com pertences simples até o meu chapéu. Na dúvida, ainda usavam máquinas detetoras de metal. 

Quando do anúncio da morte de Mono Jojoy, líder das Farc, as televisões entraram em estado de êxtase ideológico. Era preciso mostrar à larga que o inimigo, o oposto, o indescritível, havia sido abatido. 

Não se questionava o motivo da guerrilha, a insurgência contra uma situação histórica de opressão sobre todo um povo. E se a luta armada é uma opção que apenas amplia o horror, acresce mais horror a uma situação em si terrível sem conseguir vislumbrar, mesmo que ao longe, uma solução, o uso das vitórias das forças regulares é um discurso suficientemente forte para apresentar as elites como "salvadoras" e "patrióticas".


O povo revela não entender a matriz profunda da guerra, suas motivações de repulsa à injustiça social para somente perceber a ação violenta dos guerrilheiros.  Para as pessoas com quem conversei, "los guerrilleros son malos" e fim. 

O foco essencial é desviado para o confronto em si, a batalha, mais que isso, a notícia dessa batalha. Assim, a vida passa ao plano da notícia pontual, esquecendo-se a dor histórica de um povo. Há medo? Matêmo-lo. E matando-se o homem origem do medo garante-se pelo noticiário que o Bem está triunfando. 

A pretensa busca pela democracia pelas armas dá liberdade e legitimação ao discurso de manutenção da ordem e a brutalidade apenas se justifica. A brutalidade primeira, de uso do povo para fins privados, é esquecida. A visão do ataque a Mono Jojoy é um  blockbuster de horrendo sucesso. O espetáculo da guerra, na Colômbia, faz parte da grade de programação das redes de TV.



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