sexta-feira, 24 de setembro de 2010


Em Bogotá é tempo de comemoração midiática: é preciso mostrar o inimigo morto
Emanoel Barreto

Bogotá - A primeira página de hoje de El Tiempo dá bem uma ideia da comemoração midiática em torno da morte do guerrilheiro Mono Jojoy. A manchete é incisiva: foi entregue, traído seria o termo, por parceiros, insinuado aí que o movimento Farc está em processo de falimentação.

A guerrilha, enquanto discurso violento de contestação a um determinado sistema, passou a carecer de legitimidade quando se envolver com os narcotraficantes, tornando-se assim organização temida, tanto quanto os comandos paramilitares de extrema direita e os traficantes mesmo.

Na primeira página autoridades comemoram, em destaque o presidente Juan Manuel Santos. Em foto abaixo, imagem do corpo do guerrilheiro morto. A contraposição é forte: é preciso exibir o troféu fúnebre. É preciso uma imagem-são-tomé para que se tenha dimensão da vitória alcançada.

No fundo o povo, sempre o povo, fica ao sabor dos interesses de quem tenha poder, de fogo inclusive, passando a viver uma situação-limite. E quando um grupo que escolheu as armas para supostamente defender o povo mas incide em situação de similaridade à violência das elites - violência que vai da assimetria de classes às manifestações de banditismo e brutalidade, tal grupo passa a ser apenas mais um drama na vida de quem vive na corda bamba.

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