domingo, 12 de dezembro de 2010

De bons conselhos para que você se torne desocupado e depois banqueiro
Emanoel Barreto

Corria o ano da graça de 1734 e eu estava em Londres com um casal de tios. No meio da multidão eu me perdi. Quando quis entrar em pânico lembrei-me de conselho que tinham me dado: "Jamais entre em pânico, se se perder. Grite para saber se por perto tem alguém bondoso, que essa pessoa bondosa o encaminhará a nós." E assim fiz: gritei e logo um grupo de indivíduos se aproximou, apresentando-se como composto por pessoas excepcionalmente boas.

E quem são os senhores?, quis saber. Responderam: Somos integrantes de Grande e Pacífica Ordem dos Desocupados, a nosso lado nada temerá. E os senhores vão me levar a meus tios? Claro, foi a resposta. Mas antes, explicaram, eu deveria aprender a ser um desocupado. Assim não teria problemas se algum dia ficasse desempregado. Já teria prática e isso me daria grande vantagem no nobre ofício do ócio. Diante da magnífica sugestão, aceitei no ato. Eu tinha sete anos e sabia quando estava ao lado de gente escrupulosa e de um futuro promissor.

Logo me ensinaram que um bom desocupado primeiro deve fazer nada. Depois, se tiver talento, pode chegar a malfeitor. Então, assumi comigo mesmo o grande projeto de chegar a tão elevado posto, já que, como malfeitor, poderia, como me disseram, tornar-me banqueiro, que são os piores malfeitores do mundo.

Destarte, espichei-me em uma calçada e comecei a dormir. Fui visto imediatamente como um grande preguiçoso e desocupado e aplaudido por toda a Grande e Pacífica Ordem dos Desocupados . Após dez dias dormindo na calçada fui chamado a depor. Depor? Por que vou depor?, perguntei ao policial que já queria me algemar. Crime de vadiagem, respondeu. Precisa comparecer ao juiz. Não me dei por satisfeito e gritei, explicando que não era um vadio, mas um respeitável desocupado, prestes, dentro de mil anos mais ou menos, a buscar emprego de banqueiro. 

O policial, vendo meus bons projetos e magnas intenções, liberou-me imediatamente. Foi promovido a sargento, uma vez que demonstrara ser grande conhecedor dos direitos dos desocupados. Anos depois encontrei meus tios. Estavam desesperados, haviam gasto tudo o que tinham na minha busca e encontravam-se na mais ultrajente miséria. E pior: tinham sido presos por vadiagem, somente sendo soltos depois de passar dez anos na Sibéria e vinte trabalhando em minas de sal não-sei-aonde.

Emocionado com o seu heroísmo, perguntei: Quer dizer que não têm mais dinheiro? Sim, foi a resposta. Da minha parte, abracei-os e os protegi. Havia virado banqueiro e dei-lhes confortável velhice. Ainda choro quando lembro disso.

Imagem: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.ubr.pt/wp-content/uploads/2009/08/banqueiros1.jpg&imgrefurl=http://www.ubr.pt/%3Fcat%3D1%26paged%3D2&usg=__NY-iz2HhNnrlfKVQBdAp2WpUy-Y=&h=200&w=200&sz=8&hl=pt-br&start=28&sig2=B2lKDKPgSZuDCjwyNO4HSg&zoom=1&tbnid=eGElYHf2FiE91M:&tbnh=132&tbnw=132&ei=MkMETef_I8Tflge1_pH_Bw&prev=/images%3Fq%3Dbanqueiros%26um%3D1%26hl%3Dpt-br%26safe%3Doff%26client%3Dfirefox-a%26sa%3DN%26rlz%3D1R1GZEV_pt-BR___BR406%26biw%3D1024%26bih%3D581%26tbs%3Disch:10%2C893&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=527&vpy=317&dur=9&hovh=160&hovw=160&tx=72&ty=79&oei=JkMETYbuGsKAlAfMn9zPCQ&esq=3&page=3&ndsp=15&ved=1t:429,r:7,s:28&biw=1024&bih=581

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