segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O prefácio de grandes mudanças ou ninguém sabe o que virá

Hosni Mubarak
No Egito o povo parece ter aberto as comportas de uma assuã social, cujas multidões caudalosas inundam as ruas de Cairo.Vive-se, tudo leva a supor, o prefácio de grandes mudanças, mesmo que não se possa falar em revolução: o que se busca é uma espécie de restauração especulada, a implantação de algo que venha a se aproximar do que seja uma democracia, estado social somente conhecido dos egípcios por ouvir dizer.

Eles querem sarjar do poder o embalsamado político que atende por Hosni Mubarak, encastoado ali há 30 anos. As estruturas do regime estalam, rangem suas roldanas mais enferrujadas, trincam-se as estruturas de dominação e o povo vai às ruas. O exército, dizem as coisas de jornal na internet e nas folhas, não mais se porá contra os que gritam fora Mubarak. A posição do exército se dá frente à marcha de um milhão de pessoas programada para hoje.

Caindo, Mubarak pode ser substituído por alguma facção político-teocrática como a Irmandade Muçulmana, o que não garante, sequer sinaliza democracia na forma como o Ocidente, pelos seus condutores e intelectuais orgânicos, a compreendem.

Está aí temor dos Estados Unidos: o surgimento de um Estado islâmico cujo alinhamento com frações radicais maometanas pode ser tido como algo bastante provável. 

Será preciso uma solução histórica de equilíbrio, sem adesão a setores muçulmanos possuídos de sectarismo. A humanidade não precisa de mais uma manifestação de estupidez sob a alegação de contrapor-se ao imperialismo americano - que existe, é ruim e também brutal. O estabelecimento de alguma guerra santa junto a um povo já embebido de sofrimento será fácil dadas as condições vigentes: a queda de um ditador travestido de presidente e a suposta deposição do jugo dos ombros do povo.

 Havendo isso, a queda do ditador e sua substituição por um governo teocrático salvacionista, nem o Egito ingressará em alguma forma de governo que vise a realização de uma democracia no mundo árabe, nem o mundo poderá pensar em sossego, pois as chamas da sua revolta - justa e compreensível em si - poderão chamuscar ainda mais as mãos dos que pedem paz e um pouco de bom senso.

O blog de Gustavo Chacra, repórter do Estadão, acompanha em tempo real os acontecimentos e traz a seguinte avaliação: 

Análise - "Cenários possíveis" – Há quatro cenários possíveis, de acordo com a consultoria de risco político Stratfor. No primeiro, o regime consegue sobreviver, ainda que sem Mubarak. No segundo, são convocadas eleições e um candidato moderado como Mohammad El Baradei vence. No terceiro, também com fim do regime e votação, a Irmandade Muçulmana conquista a vitória. E, no último, o Egito caminha para um caos político."

Nenhum comentário: