A coragem do emboá e a vontade de ir à tempestade
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Caminhando pelo Bosque dos Namorados observo o perigoso passeio de uns bichinhos conhecidos como emboás.
Aqueles pequenos seres que movem suas perninhas em espantosa coordenação e cruzam a pista por onde os enormes pés humanos seguem, ameaçando suas vidas elementares que se guiam pelo instinto de ir e vir. Sem motivo para o ir ou o vir, mas apenas pelo simples ato de ir e vir. Não chegam nem saem, apenas se movem.
Não se apressam, desconhecem o que seja o temor de encontrar a pisada esmagadora de um tênis, das rodinhas da bicicletas das crianças ou até mesmo dos carros.
Sim, porque, por mais absurdo que possa parecer, no Bosque há trânsito de automóveis entre os pedestres. E os emboás seguem para lá e para cá. Vidas brutas, rudes, somente assumem posição de defesa quando se enrodilham a ser tocadas.
Enquanto caminho pareço cabisbaixo. Não estou: estou olhando o passeios dos emboás, das formigas tocandiras, de um ou outro lagarto que passa, esse sim, correndo em meio às ondas de pés e rodas.
Os emboás têm uma espécie de coragem básica, que a rigor não é coragem porque não sabem o que seja perigo. E eu, caminhante-que-olha-os-emboás, fico a pensar na coragem humana e então penso que a coragem humana é a engenharia reversa do medo, a aptidão de arrostar o fracasso e vencê-lo, a decisão de se atirar ao mar para saber como age a tempestade, a fúria, o trovão, o grito da água que explode de si.
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