sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Brutalidade do regime de Mubarak agora se volta contra jornalistas

Deu na Folha:

Por 3 vezes, repórter brasileiro pensou que fosse morrer

Jornalistas e cinegrafista foram encapuzados, levados para uma delegacia e tiveram que assinar depoimento em árabe para sair

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Por três vezes, em algumas horas, o jornalista Corban Costa, 49, achou que seria assassinado a sangue frio pela polícia de Hosni Mubarak.

"Eu pensava: "eles vão atirar, eu vou morrer'", conta ele, que passou parte do tempo com um capuz na cabeça, sem saber onde estava.
Os problemas começaram já no desembarque no aeroporto do Cairo, quando todo o equipamento de Corban e do cinegrafista Gilvan Rocha, baiano de 31 anos, foi confiscado pela polícia.

Eram 20h15 na capital egípcia, 16h15 de Brasília.
Liberados, eles pegaram um táxi com motorista que falava inglês e avisou: "Não digam que são jornalistas".

Passaram por cinco barreiras, sem grandes problemas.
A sorte mudou na quinta barreira. "Somos turistas", disseram. Mas o passaporte de Gilvan é muito carimbado.

Uns dez militares e policiais foram se juntando e os obrigaram a sair. Meteram então "um capuz ou uma venda" em cada um e os empurraram para uma calçada, de frente para um muro.
"Pensei: "é agora, vou morrer'", relata Corban.
Cercado por policiais e soldados, ele foi levado por uma rua e, depois de subir numa calçada, caminhou na areia.
"Então, é agora. Ninguém vai ouvir nem ver nada."

Mas continuaram até uma delegacia. Tiraram-lhe o capuz, e Corban viu Gilvan.
Corban foi colocado numa solitária: "Não tinha janela, era forrada de uma coisa acolchoada. Igual a uma câmara de interrogatório".

Meia hora depois, um policial entrou, pediu a caderneta de Corban e anotou, em inglês, três perguntas: "Quando veio para o Egito? Em que trabalha? Por que veio?"
Depois, veio com um papel em árabe, disse que era o depoimento e perguntou: "Se acredita em mim, assine". Corban e Gilvan assinaram.

Eles passaram a noite numa cela e só foram soltos às 14h30 (10h30 de Brasília), depois de comer biscoitos, sem água. Foram postos numa van branca, com mais quatro ou cinco pessoas.
Um soldado perguntou: "Tem alguém da Argélia?" Tinha. E era jornalista. O carro passou a dar voltas e Corban pensou pela terceira vez: "Vão metralhar todos nós".

Em vez disso, largaram os dois no centro. Ontem, eles tentavam deixar o Egito.
"Vocês estão mortos de fome?", perguntou a Folha, às 19h de Brasília. "Pra falar a verdade, não. Só pensamos numa coisa: sair logo daqui".

Em nota, o Itamaraty disse que "deplora os os atos de hostilidade à imprensa".

Nenhum comentário: