segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Vanguarda feminina
 Walter Medeiros* -

Em meio à correspondência que recebemos, um envelope chama atenção pela remetente – Rizolete Fernandes, destinada a Graça Medeiros, minha mulher, que, ao abrir depara-se com o comunicado de uma homenagem. O Coletivo Leila Diniz homenageia Maria das Graças Medeiros, “pela sua contribuição ao Movimento Feminista do Rio Grande do Norte”. Trata-se – aquele coletivo - de importante entidade que desenvolve ações de cidadania e estudos feministas e tem como presidente a nossa amiga Rizolete.

Aquele documento de estética tão pura e beleza singela traz consigo uma essência do tempo, de história, de lutas, que tive a ventura de acompanhar por conviver todos aqueles momentos de busca por melhores dias, por liberdades democráticas e novas conquistas de gênero. Acompanhava Graça naquelas atividades junto às companheiras, vivendo as apreensões de confrontar os poderosos que insistiam em manter caladas as vozes que, por sua vez, insistiam em gritar onde era possível e até onde não o era.

Lembro bem os rostos de tantas militantes, cujos nomes cito sem medo de correr o risco de deixar de citar algumas, pois não por isto deixarão de ter o valor de sua luta registado nas honrosas páginas da história do feminismo. Rizolete é um símbolo; Elizabeth Nasser também; Eveline Guerra; Joana D’Arc Leite; Fátima Sá; Ceiça Fraga; Juraneide Silva; Ceres Gomes; Goretti Lucena e tantas outras, escreveram bela página da luta democrática nos anos setenta, oitenta e seguintes.

Quando falar era um risco de vida, lá se via aquelas corajosas mulheres reunidas em casas como a nossa e outras, fundando, entre outras entidades, a União das Mulheres de Natal – UMNA. Uma entidade revolucionária, que tinha objetivo de defender com unhas e dentes os direitos das mulheres. Não ao soutien e seus battons, mas o direito à dignidade do emprego, do salário justo, creches para os filhos, licença gestante ampla e participação em pé de igualdade com os seus companheiros.

Aquelas mesmas mulheres que se reuniam e definiam as bandeiras de luta, vez por outra estavam diante dos algozez que lhes buscavam para depoimentos na Polícia Federal ou na ASI (Assessoria de Segurança e Informação) da UFRN. Ali eram intimidadas da mais variadas formas, ao mesmo tempo em que recebiam “conselhos” para evitar companhias que para eles não teriam futuro, já que eram tidas como subversivas.

Graça lembra, ao receber a homenagem, que ainda bem jovem, em Macau, foi instada pelo Padre Penha a devolver à Biblioteca o livro “A mãe”, de Maximo Gorki e contraditoriamente teve uma discussão com o Monsenhor Expedito, que não admitia que estudantes do Projeto Rondon escutassem em Lajes as músicas do Padre Zezinho, que eram consideradas de protesto. Foram dias de muito suor, apreensão, determinação, desprendimento, valorosos e inesquecíveis, que precisam sem sempre registrados, como a própria Rizolete já tem feito através brilhantes relatos publicados nos seus livros. Como este momento é mais dela, parabéns, Graça!

Nenhum comentário: