sábado, 5 de fevereiro de 2011

Alguém viu Kafka por aí?

Quando se quer falar da ocorrência de algo absurdo em nosso mundo muitos a chamam de situação kafkiana, alusão à obra do genial Kafka que recodificava as coisas desse "nosso mundo" a partir de visão particularíssima que, na verdade, nada mais seria, para mim, que visão objetiva de como o mundo realmente é: insano, inseguro, estranho, dual, perigoso, rito de simulacros que se intercomunicam em farsa monumental, jogo de espelhos.
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Digo isso como nariz-de-cera para tratar do assunto inspeção veicular, aquela determinação governamental que teria por objetivo impedir a circulação de carros com motores poluentes. Alguém sabe no que deu? Diziam as coisas de jornal, nas folhas, na TV, rádio e internet, que teria sido suspensa, melhor proibida de realizar-se por não atender a nenhum interesse prático que não o enriquecimento da empresa a quem o governo dera o condão e a autoridade de dizer a você: "Ei!, seu carro é um agente poluidor ativo, perigoso e temível. Vá fazer os consertos necessários e volte aqui para que nós, empresários altamente comprometidos como a preservação do meio ambiente e donos da empresa que faz a inspeção veicular, possamos lhe conferir o salvo-conduto circulatório veicular." Algo mais ou menos assim. É o espírito da lei, deu para notar?

Trocando em miúdos, uma empresa amiga do peito estava credenciada a cobrar de você, de mim e de qualquer outra vítima, quer dizer de todos os donos de carros no Rio Grande do Norte, não-sei-quanto para inspecionar seu automóvel e dizer se podia ou não trafegar sem entraves e seus jurídicos e legais efeitos.

Então, vem o governo sucessor do outro governo e diz: "Nada disso. Está tudo errado. Não precisa fazer essa inspeção porque pá-pá-pá, pá-pá-pá, pá-pá-pá..., entendeu?".

Mas agora, parece, não precisa mais. Percebe como é kafkiana a situação? De repente precisava, agora não mais. 

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Isso me faz lembrar outra situação, essa de alcance nacional. Também absurda. Também ilógica. Refiro a uma onda de histeria que varreu esta infeliz nação dizendo o seguinte: "A partir do dia tal - isso já faz uns 15 anos - todos serão obrigados a ter no carro um estojo com material de primeiros-socorros". Foi uma loucura. Farmácias foram praticamente invadidas, as tais bolsinhas eram disputadas, espalhou-se o temor de ser preso. "Já pensou se eu atropelar alguém?", era a mensagem que os autores dessa louca lei impuseram no mais íntimo do pensamento coletivo.

Mas isso foi bom: de repente, todos nós fomos promovidos a socorristas de primeira categoria. Aptos a prestar atendimento de emergência a qualquer uma de nossas virtuais e possíveis vitimas. Aí, todo mundo comprou as tais bolsas. Aí, quando todo mundo tinha comprado as tais bolsas saiu uma nova lei: "Não precisa mais". Aí, todo mundo correu a doar as tais bolsas a farmacinhas de bairro, instituições de caridade, etc...etc...etc...

Percebe que alguém ganhou muito, muito dinheiro com a venda de tais acessórios? Não dá para suspeitar que a lei fora feita com o intuito de beneficiar o fabricante ou lá quem seja, de tais inutilidades? Pois é: Kafka puro.

Depois teve outra lei: "Todas as bicicletas do país precisam ser dotadas de retrovisores, uma buzininha e faixinhas reflexivas de luz dos carros. Quem não tiver..." 
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Se não me engano, parece até que exigiam capacete, já pensou? Foi outra loucura, saí feito um louco - já que era uma loucura, eu tinha de agir feito louco - para comprar essas traquitanas para as bikes das minhas meninas. Do mesmo jeito que fizera com a bolsa de primeiros socorros. 

Não me lembro se a tal lei foi revogada, abrogada, desmanchada, destituída ou amassada e jogada na cesta de lixo, que não sou advogado para saber de tais sabenças. Só sei que deu em nada. A mesma coisa é a inspeção veicular, nomão bonito, bem ao gosto da burocracia. De repente era obrigatória, agora parece que não é mais. Fico na minha dúvida, fico na minha indignação. E pergunto: será que alguém no governo não está precisando pegar uma lavagem de roupa? Só para ter o que fazer, entende?

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