quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Nova carta de Alberany, o abminável, que começa a viver a Terra Brasilis

A quem tem estultice de me ler, eis o que digo,
 
Após desembarcar de miserável nau na Terra Brasilis envolvi-me em tropelias e, junto a magote de exploradores e vilões, ataquei uma procissão que se temia fosse movimento sedicioso. Não era. Mesmo assim, aplicamos àquelas vítimas golpes de bordão e bastonadas, para que aprendessem que eram povo e como tal deveriam ser tratados.

Devo lembrar que eu e meus sórdidos amigos, vilões em alto grau, temos por montaria homens fortes e tolos que se deixaram por nós dominar e agora relincham como se cavalos fossem. Para comemorar a surra que demos no povo combinamos de nos divertir largamente em uma estalagem, ambiente pouco recomendável e cheio de barulho.

Montamos e nos atiramos em direção ao antro, onde esperamos encontrar prazeres da mais reles alegria. Em meio ao caminho vamos atropelando quem seja louco o suficiente para ficar ao alcance da nossa cavalgada de insanos.

Ao chegar somos recebidos pelo estalajadeiro. Homem de aspecto asqueroso, tem a barba preta batendo no peito e uma perna de pau que, alegra-se, foi obtida quando participava de navio que atacava galeões espanhois lotados de ouro. Faz um gesto obsequioso e nos introduz no covil.

Ali reina a mais perfeita desordem. Afinal, somente se encontram no salão esfumaçado tipos da mais perniciosa origem. Entro ao lado do chefe da minha tropa de infames. Sentados a uma mesa, vinho da mais terrível procedência nos é servido. Logo pergunto como podemos lucrar à custa de tolos e afins. 

O atroz indivíduo, que atende por Peró, diz-me que devemos atacar velhos enfermos e nos apoderar de todos os seus bens, casas inclusive, e desta forma malvada acumular grandes cabedais. E o que fazemos com os velhos?, perguntei. Serão vendidos a comerciantes de escravos que os colocarão em suas naus tormentosas e os venderão a canibais, responde-me prontamente. 

Como se vê, é ideia excelente. Nisso, chega o estalajadeiro e se põe conosco a conversar. Ouvira de soslaio nossas velhacarias e se propõe a ser nosso sócio. Diz que, além do ataque a velhos enfermos, devemos fazer o inverso. Inverso, como assim?, quero saber. Simples, afirma, formaremos grupos que irão por toda a cidade pedindo ajudas para os pobres, mas que serão desviadas para nossa empreitada fraudulenta. 

Ótimo!, exclamo. Agindo desta forma ganharemos fama de bondosos e ninguém suspeitará dos sequestros dos anciães e do roubo de seus dinheiros e propriedades. Com isso, comemora o estalajadeiro, teremos acesso aos poderosos, anunciando a estes que estamos em grande campanha e nobre causa. E, detalha, se os nobres forem tolos, nos darão vultosas contribuições. Se forem maus, se unirão a nós e ampliarão enormemente o nosso poder. 

Subo a uma mesa, já sentindo os efeitos do álcool e anuncio ao conciliábulo de infames que nos seguem tão grande e alta boa-nova. Sou aplaudido e carregado nos ombros. Passamos o resto do dia bebendo e comemorando nossos planos. Varamos a noite em grande bebedeira e augusta bandidagem. 

Dia seguinte, montados em nossos homens-cavalos partimos para a rapinagem. Atacamos primeiro a casa de um rico e doente cidadão, que acumulara fortuna à custa de viúvas e órfãos, e também com o tráfico de escravos. Ao invadir o seu quarto está ele emitindo horrendos gritos. Apresentamo-nos como médicos e ele pensa que conosco terão fim ali os seus males. Fala-nos de seus achaques e de como se sente molestado.

Então, para sua surpresa, tomo de um relho e desço em seu lombo gordo uma série de brutais açoites. Que tipo de médicos são vocês?!, grita o infeliz. Estão sob as ordens de Belzebu?, diz em desespero. Não, respondo eu, somos patifes da mais baixa ordem e estamos a dar-lhe um pouco do seu próprio remédio. Ai, como é triste o meu penar!, berra o maldito enquanto é carregado para ser vendido aos mercadores de escravos.

A turba que me acompanha, enquanto isso, está a roubar tudo o que está a seu alcance.  O velho já foi entregue aos carniceiros que o venderão, e partimos para a próxima surtida. Iremos à casa de um nobre, conforme fora planejado. A patuleia de malfazejos que nos acompanha já se espalhou pela cidade pedindo óbolos e ajudas aos necessitados, tudo como fora programado.

Como vedes, somos rápidos e insignes representantes do saque e da espoliação, malfazejos dos mai indignos propósitos.

Fico por aqui, prometendo vos contar nossas vis artimanhas, ardis e malefícios. Tenho certeza que haveis de concordar: na Terra Brasilis tudo conspira a favor dos inclementes e dos abusadores, dos néscios de toda ordem, bem como dos pilantras e malvados. Agora, paro de escrever e parto para novo embuste.

Deste que vos respeita e quer,
Alberany, o abominável
Imagem http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www2.uol.com.br/historiaviva/dossie/img/bandidos6.

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