segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Os tucanos estão de cara feia

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O fato que de fato não é um fato
Emanoel Barreto


Campanhas políticas podem e efetivamente transformam jornais em aparelhos políticos, extensões dos partidos. Funcionando como uma espécie de intelectual coletivo o jornal, para efeito de vilegiatura partidária, trabalha politicamente mesmo quando diz pelo noticiário que está apenas informando objetivamente a respeito dos fatos. Esse "dizer" é exatamente a aparência de neutralidade das notícias. Sua leitura dá a impressão de que o jornal está sendo isento. 


Quando você lê um texto e este aparenta ser isento mesmo sem o ser, é o jornal que está se dizendo isento e como tal é percebido. Toda notícia reivindica, todo jornal reivindica credibilidade, exatidão. Obtendo-se esse efeito, a notícia "se disse" credível, confiável.

Mas, veja bem: o jornal informa a respeito dos fatos, não traz os fatos em si. O jornal é segunda circunstância, valora e imbrica aos acontecimentos sua própria visão de mundo e assim o fato primevo se torna uma espécie de realidade suplente, representaviva - aquela que foi selecionada para tal se tornar.


Isso se dá especialmente no chamado jornalismo declaratório, aquele proveniente de noticiário advindo de ato frasal intencionado do declarante. Quando isso se dá, entramos no perigoso terreno que confunde publicidade - aqui no seu sentido de tornar público - com propaganda, uma vez que é a ideologia quem comanda o noticiário. O jornal partícipe das intenções de partido ou ator político com o qual mantenha alguma forma de aliança ou simpatia.

A atual campanha à presidência da República é exemplo clássico: a enfática aparição de Dilma nos noticiários, as acusações de seus adversários há muito deixaram de ser notícia para se transformar em propaganda ou contrapropaganda, dependendo de como os encaremos.

Propaganda pelo efeito que busca atingir de criar opinião pública a favor de Serra. Contrapropaganda quando busca desconstruir a imagem midiática de Dilma. Trata-se de espetáculo lamentável: não só pelo desserviço que impõe à democracia, mas e especialmente porque esse tipo de jornalismo não assume sua condição de praticamente de política por outros meios.

O noticiário sobre a "crise" dos dados fiscais da filha de Serra é o típico acontecimento-nada. Emitiu-se um discurso intencionado e a partir desse fato-intencional-forjado surgiram os demais acontecimentos "naturalmente". Trata-se de um metaprocesso de circulação circular; formou-se - apenas no jornalismo, veja - toda uma cadeia de "fatos novos" em retroalimentação contínua, uma espécie de moto-perpétuo sem consistência interna. O discurso propagando-se a si próprio.

Tanto é verdade que não há movimento de sociedade civil estarrecido e, pelo andar do fato - aí sim - real de que a algazarra não surte efeito, tudo indica que a candidata do PT será eleita em primeiro turno. E isso deixa os tucanos de cara feia.

Um comentário:

fagner disse...

Impecável, professor. Até porque para a maioria do povo brasileiro que tem muito pouco o que declarar em IR, ter a vida "devassada" não é lá um apelo muito convincente de se fazer, já que esta palavra não chega a representar muita coisa. Tem muito mais ligação com "eles lá", e talvez chegue até mesmo a se transformar em vontade de desmascaramento por parte do povo. O problema é que o "acontecimento-nada" que tentará levar a campanha para o segundo turno certamente será procurado em outro lugar.