sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Um menino pobre, um engasgo e uma vida posta em risco

Leio no blog Abelinha.com, de Eliana Lima:

Na falta de UTI Pediátrica nos hospitais do Estado, e de atitudes para providenciar, a Prefeitura de Natal entrou em campo para salvar a vida do menino Matheus Brito da Silva, 3 anos, que estava na UPA do Pajuçara necessitando urgentemente de ser transferido para uma UTI.

Na primeira hora desta sexta-feira (18), 1h, Matheus foi transferido numa ambulância do Samu para uma UTI no Hospital Antônio Prudente, do Hapvida.

Antes, o secretário Thiago Trindade tentou no Papi, mas a única UTI disponível foi à preferência de particular que chegou em estado grave. Caso não desse certo no Hapvida, já se estudava a instalação de uma UTI improvisada no Hospital Walfredo Gurgel, conforme informou ao blog, noite de ontem, o secretário de Comunicação da Prefeitura, jornalista Jean Valério.

Mas a demora pode ter sido faltal para Matheus. Seu estado se agravou. Muito grave. A demora para a transferência pode resultar na sua partida. Apenas três anos, antes saudável e cheio de vida para brincar, o que, aliás, gostava e fazia bastante.

Matheus estava bem atendido na UPA, entubado, respirador adequado, mas necessitava de uma UTI e de acompanhamento neurológico. Como a unidade não dispõe de médico neurologista, em nenhum momento ele foi observado por um. Precisou passar por tomografia computadoriza, não não houve possibilidade para fazê-lo no Walfredo. E desde quarta-feira que sua vida – alertada por várias vezes neste blog e no twitter.com/elianalima – corria sérios riscos. Mas o socorro necessário não chegava. Apenas na madrugada desta sexta.

Matheus engasgou-se com um caroço de pitomba, ficou asfixiado, teve parada cardíada e foi atendido a tempo pelo Samu Natal. A partir daí começou mais um processo de angústia e desespero dos profissionais do Samu. Motivo de sempre, de todos os dias: falta de UTI nos hospitais públicos. A solução foi encaminhá-lo para a UPA do Pajuçara, onde foi bem atentido, mas sem UTI e neurologista, insuficiente para salvar sua preciosa vida em desenvolvimento.

Agora é rezar e esperar que um milagre faça Matheus voltar à vida de antes.
Em tempo: o problema de engasgo  é um dos maiores vilões que ceifam vidas de crianças. Muitas vezes por falta de orientação dos próprios pais. É passada a hora das autoridades de saúde pensarem, e realizarem, uma campanha de prevenção contra o engasgo.
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É aí onde bato na tecla: Natal precisa de um estádio de futebol para a Copa de 2014, quando se realizarão jogos de segunda categoria, ou de UTIs em hospitais públicos? Nem preciso responder. Se as autoridades tivessem mesmo o compromisso que alegam ter com a sociedade, o caso desse menino possivelmente já teria sido solucionado. 

E quanto refiro a autoridades não me dirijo às atuais prefeita ou governadora.  Incluo todos os que as antecederam. Autoridade, digo, em seu  sentido histórico, Poder Público. atuante, proativo. Esse problema é antigo e jamais enfrentado com a decisão política  necessária e enérgica em busca de solução.

A jornalista detalhou, ademais, aspecto estarrecedor: o menino, pobre, deixou de ser atendido em favor de paciente "particular".

O que se vê então, até o momento em que redijo, é uma situação dramática, em que a Prefeitura busca uma solução emergerncial. Louvável, mas emergencial. Tentei falar com o secretário de Comunicação da Prefeitura, Jean Valério, mas a ligação caiu na caixa postal. Deixei recado e aguardo resposta. 


Um comentário:

Anônimo disse...

Emanoel, muito bom o seu texto/desabafo/crítica. Discordo apenas do tom dado à prioridade pelo paciente particular. Temos que lembrar que o PAPI é um hospital privado que deve, pois, arcar com todos os custos de energia, água, equipamentos, medicamentos, materiais e mão de obra. Supondo que a outra criança estivesse em quadro de igual gravidade, necessitando também daquele leito de UTI, não vejo mal em priorizar o cliente, que é quem paga estas contas que citei. O que não podemos é, de forma maniqueísta, começar a culpar instituições privadas que há anos salvam as vidas de mais de 400.000 pessoas que têm convênio ou podem pagar por atendimento médico em Natal pelo descaso que as autoridades locais local praticam em relação aos 500.000 que não podem arcar com aquilo que é obrigação do governo oferecer de graça.
Rafael.