terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ronaldo e o heroísmo midiático

O jogador Ronaldo agiu taticamente ao anunciar que abandona os gramados. Com sérios problemas físicos, chamado muitas vezes de "gordo", tomou a decisão certa: antecipou-se ao assédio da imprensa, às cobranças que o levariam a um final senão humilhante pelo menos vexatório: o confronto impiedoso do que é com o que fora. Sair em tal circunstância teria o gosto amargo de estar sendo atirado para fora; tomando a decisão de retirar-se virou o jogo, e todos os jornalistas que o acusariam passaram a cantar loas ao "fenômeno".

Eduardo Knapp/Folhapress
O ato de Ronaldo foi tipicamente um acontecimento de mídia, aquele que somente se dá por causa e para o sistema de informação. Na coletiva que convocou para fazer o anúncio, o declaratório assumiu conotação dolorosa. O discurso pungente deu o tom existencial e trágico-glorioso ao episódio, mostrou o sofrimento do herói, o mito trazido à condição humana e isso o engrandeceu ao olhar da mídia. 

Quem é grande, entrando em decadência, passa a ser comparado com o que foi, e como não se perdoam os heróis de mídia, passa a ser "culpado" de ter envelhecido ou algo assim. Isso já estava sendo feito. Na imprensa nacional e em outros países.Saiu bem e saiu na hora certa; com uma espécie de solenidade tocante marcou sua despedida. E assim remiu-se da culpa midiática usando, e muito bem, os artifícios da própria mídia. Talvez tenha sido a sua melhor jogada.

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