domingo, 26 de dezembro de 2010

Tem gente que dá câncer

Assistindo ontem à noite entrevista do jornalista Sebastião Nery, como sempre uma prosa boa, a palavra fluindo como chuva, dessas que o sertanejo chama de chuva criadeira, as palavras estalando a história recente deste país, ele disse algo, frase de escritor cujo nome não consigo lembrar agora. O sujeito se autodefinia: "A modéstia é a maior das virtudes e eu a tenho em sua forma mais elevada".
Nery riu ao fazer a citação. Por um motivo muito simples: quem diz isso nada tem de modesto. Antes, é um pavão de festa, portador de empáfia himalaica. Pois bem: pego o gancho de entrevista de Nery para lembrar que há pessoas assim: pessoas onde a modéstia nunca habitou. Buscam o poder, qualquer forma de poder. Exibem-se, porém conhecem e muito bem suas limitações portentosamente mesquinhas; mas isso é difícil de admitir publicamente, e compensando a talta de modéstia, agitam bandeiras fulgurantes de autoadoração. Buscam aplausos, reverências e reconhecimento.

 Como não têm modéstia - porque a modéstia é típica de quem tem grandeza; a modéstia é a humildade de quem tem a generosidade como segunda natureza - buscam se impor. Crescem pelo medo que possam impor, mas não lideram; se afirmam pelo sistema que possam controlar, mas não recebem respeito; dominam pelas regras que possam manipular, mas não são queridos. 

É horrível conviver com pessoas assim. É uma provação ser obrigado a compartilhar, mesmo que seja o ar, com essas pessoas. Mas é gratificante não ser contaminado por tal convivência. É bom sair de perto delas. Mas, mesmo assim, mesmo longe, é preciso tomar cuidado. Tais tipos não deixam ninguém em paz. São como uma epidemia e só sabem fazer o mal. Cuidado: tem gente que dá câncer.


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