terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Secretos e veneráveis estudos sobre o Homus Corruptus

Um amigo, alquimista, filósofo e metafísico, envia-me rascunho de obra que escreve há pelo menos dez anos, onde estuda uma espécie humana que habita o nosso meio há centenas de milhares de anos, nada tem de diverso fisicamente do comum dos mortais, mas cujo comportamento configura sim, garante-me, seu estatuto de espécie,merecedora portanto de estudos pertinazes, pertinentes e acurados. Eis o que se lê:


Caro amigo,
Solene par,

Freakingnews.com
É do vosso conhecimento que há muit'anos tenho destinado meu tempo e minha vida a ingentes esforços voltados ao estudo de espécie humana que a nosso meio habita e cujos procedimentos somente mal têm causado, sem que seja possível expungi-la do social; seja por extermínio puro e simples, o que configuraria genocídio, seja pelo peso da mão do Estado, uma vez que tais seres encontram-se àquele adstritos e sabem como ninguém manipular leis e tratados, juízos e sentenças.
Dedico-me, meu caro, ao estudo do Homus Corruptus, essa perigosa e furtiva espécie humana, trânsfuga da honradez, serva do que seja hediondo, filha primaz da exploração e do escárnio. Assomam o poder e fazem dos demais seus servos e sofredores como se animais de coleira fossem.
Para o desenvolvimento dos meus enérgicos estudos assumi atitude de anacoreta, pois que do mundo preciso me afastar a fim de que não se me perturbem os pensamentos científicos ou sejam afetadas as minhas faculdades que, caso contrário, poderiam acorrer ao chamamento da noite e suas refregas de delícias.

Para tanto, adquri vetusto castelo em paragens distantes desta Terra Brasilis e nele acomodei meu interesse, meu tirocínio e minha decisão de analisar tal criatura. Cerrei as portas de minha cidadela, enchi de água profunda o fosso protetor da fortaleza, assuvi a ponte levadiça e estudo à luz de velas apostas em candelabros que têm algo de monumentalidade, tal o seu tamanho e capacidade lucente. E assim, retirado e preso à mais austera sobriedade, dou-me a meus estudos. O ambiente severo me acicata o trabalho penoso de pensar em tais barbaridades manifestas em humana forma.

Devo dizer que o Homus Corruptus é criatura antiga, surgida em tempos que a escuridão do passado de há muito esconde. Tomei como marco zero, como como figura preliminar e primeva, a pessoa lamentável de Caim, que corrompeu a fraternidade em ganância, aproveitou-se do irmão e o matou. Começou aí, creio eu, mas ainda sem certeza, que meus escrutínios ainda desvenderão, a existência do Homus Corruptos. 
Seus exemplos, os de Caim, foram e são seguidos; a evolução fez espalhar-se em todas as atividades humanas tão impróprios proceimentos. Detalho que tais atos malissimos podem ser encontrados, em especial, nos serviços do Estado desde suas mais essenciais e básicas formulações. Destarte, após Caim, cito outro ser corrupto, esse já então integrado à corrupção na forma como hoje a conhecemos. 
Refiro a indivíduo, coletor de impostos na Roma dos Césares, que se assinava Lucius Rufus Publius Plinius Apius. Para facilitar suas ações e não perder tempo com a assinatura dessse quase quilométrico onomástico, tantos eram seus atos abomináveis na manipulação do dinheiro so Estado passou a firmar-se Larapius, cuja latinidade deu origem ao tão conhecido larápio.

 Hoje, o Homus Corruptus, a exemplo de Larapius, veste-se bem, tem em sua maioria elegância nos gestos e falar fácil. Têm, não se engane, inteligência prodigiosa para tudo o que seja fraudar, descaminhar, falsificar, lesar e lidibriar; bem como espoliar e despir do que seja digno ou belo o convívio humano, além de todas e quaisquer formas de ações e práticas que resultem em dano social maldoso.

 Fisicamente em nada se distinguem dos outros seres humanos. Mas, é na intiidade das alcovas do Poder, onde se apresentam em forma plena, identitária e total: é pelos gestos de conúbio argentário que se conhece o Homus Corruptus.  


Assim, é preciso salientar que o Homus Corruptos é facilmente encontrável em plenários que deveriam ser respeitáveis, nas empresas que cumpririam funções excelsas de labor proveitoso. bem como orgânicos aos tribunais, até mesmo os mais ilustres em aparência. 


Meu grande problema agora é conseguir exemplares para experiência em laboratório; tal se faz necessário uma vez que tal método, o estudo em biotério de tais seres, é parte da mente científica na busca de deslindar como funcionam seu cérebro e sua mente. 

 Minha pergunta básica é: se são homens que já têm de tudo, se são pessoas cujas posses fazem inveja à mais expressiva maioria dos mortais, por que se dedicam com tal afinco a afanar do social o que lhe é de direito? 

A partir de tal questionamento formulei a seguinte hipótese, que atualmente está a me exaurir até altas horas, quando a noite viceja cansaço e as aves noturnas flutuam no escuro do éter: tais indivíduos são talvez aquela parcela da humanidade que sobreviverá à hacatombe que já perpetram, assim como o Homo Sapiens sobrelevou-se ao Neanderthal.


Assim, temo que em mais alguns séculos, o que para a História nada significa, somente esta espécie habitará a Terra, o que muito me apavora. Eis o meu drama de alquimista e minha dura perquirição; angústia, medo e certeza: somente os réprobos sobreviverão.


Espero em breve voltar a este espaço a dizer que estava enganado. Mas temo que me engano ao esperar que esteja enganado.


Saudações,
Augustus Livius Perestrelo


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