quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Uma marca que deu certo num país que vem dando certo


As armas da República (ao lado) são o símbolo oficial do Brasil, representam seu estatuto de Estado e definem, segundo as normas da heráldica, a personalidade visual do ente nação, sugerindo, a partir daí, a entidade pátria, sentido de pertença, liame cultural fincado na evocação de passado arcaico e heroico, território que alumbra e enternece; lendas, sonhos e grandeza.

Todavia, a simbologia heráldica, sisuda, nada tem do poder atrativo e sedutor de símbolos e ícones encontrados nas peças publicitário-propagandísticas, formuladas segundo estritos cânones comunicacionais de poderoso apelo emotivo. 

As armas da República são institucionais e pétreas; representam o país e a pátria como poder. Sua mensagem é reverencial, quase castrense. Inisinua, portanto, situação assimétrica  entre o estatuído e a cidadania que se rege segundo leis. Resumindo, Estado, país, pátria, nação ali representados devem ser respeitados. 

Por sua vez, a publicidade visual é apelo com charme, magnetismo e cordialidade social que supostamente desarticula a assimetria entre povo e Poder. As armas republicanas são um conjunto sígnico que tem como dado essencial a ordem, o establishment civil, enquanto a publicidade se encaminha à condição de marca e aí contém mensagem de convencimento agregador superpondo-se à noção de Poder contido na formulação heráldica.


O governo Lula foi, possivelmente, o que melhor produziu uma marca. Suficientemente sólida e massificada, legitimou-se como verdadeiro símbolo nacional. Sua formulação é tão perfeita que sugere um grafitti pintado às pressas num muro, um certo traço ingênuo mas produto de estudos de formas e cores que remetem ao imaginário nacional, o que lhe confere credibilidade como se fora autêntica.


Sem querer buscar argumentações teóricas mais aprofundadas, que não seriam cabíveis num texto jornalístico, valho-me de uma citação da Wikipedia a respeito do grafitti para esclarecer minhas observações: Grafite ou grafito (do italiano graffiti, plural de graffito) é o nome dado às inscrições feitas em paredes, desde o Império Romano. Considera-se grafite uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade.Por muito tempo visto como um assunto irrelevante ou mera contravenção, atualmente o grafite já é considerado como forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais, [1] mais especificamente, da street art ou arte urbana - em que o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade.

Foi isso mesmo o pretendido com a criação da marca do governo Lula: dar a impressão de coisa criada pelo povo com o intuito de, representando o Brasil, ser também ele, povo, igualmente representado. Isso cria um processo de empatia com o olhar brasileiro, tal a competência com que foi criada a marca.

Observe a escritura das letras, suas cores, a formulação ingênua da bandeira nacional na letra "A", idêntica a qualquer uma encontrada em paredes ou muros de qualquer parte do Brasil profundo. Esta é uma marca que deu certo. Se o marketing de Dilma for esperto, deverá conservá-la. Afinal, é marca também de um país que, nos últimos oito anos, vem dando certo. 

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