sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Medos grandes, medos nossos, elegantes e sinceramente medos
Emanoel Barreto

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As festas de fim de ano no fundo são uma espécie de cerimônia de adeus, adeus aos aos nossos medos; uma tentativa feita de champanhe para vê-los entrar em sua nave louca e saír sem rumo, talvez aproando um horizonte invisível, quem sabe aportando alguma praia que não existe e ali, encantados com alguma atlântida tão feroz e possessiva quanto eles, se perdendo para sempre - deixando-nos libertos e abrindo espaços em nossa alma para que dela, e nela, se aconcheguem sentimentos delicados, coisas amáveis, momentos - como já não se usa mais dizer - fagueiros.

E então gritamos: aos nossos medos, adeus. Adeus àqueles mais reais, íntimos, intocáveis, secretos e sutis - belos medos, elegantemente guardados em escrínio de prata; medos aqueles que terminam por ser profundos companheiros nossos tão regularmente nos acompanham, tão propriedade insana e ferina fizeram de nossas vidas.

Daí porque os votos de felicidades; não felicidade, felicidades. Felicidades, esse espelho partido em mil milhões de fragmentos, pedacinhos do grande fetiche vida. E por que desejamos felicidades? Porque no imenso e fragoroso território que somos e que habitamos sabemos que os medos vão e voltam. Porque o alicerce do medo é a incerteza. E eles voltam logo depois de caído o pano do teatro festivo e ficamos anualmente sabendo que continua tudo igual. As piores ameaças são aquelas a quem mais dedicamos carinho, pois são coisa de propriedade nossa.

Bom,  é isso, é somente isso: felicidades, muitas felicidades.., repita comigo...: felicidades, muitas felicidades...