quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O ogro de volta ao castelo ou no Congresso há sempre lugar para um arroto

Está na Folha: O governador reeleito Antonio Anastasia (PSDB-MG) colocará à frente das 22 secretarias do governo de Minas 14 pessoas com vinculações partidárias. Entre elas estão dez deputados estaduais e federais, o que abriu vaga para o deputado do castelo, Edmar Moreira (PR), seguir no Congresso.

(Foto: Leonardo Costa/D.A Press/Agência O Globo)


O que muitas vezes é chamado de jogo político no Brasil transformou-se, perversa e enraizadamente, em jogatina praticada no saloon do Congresso. O deputado do castelo é uma dessas figuras expressivas,cabais, execráveis; pessoa icônica do que seja corrupção à brasileira. Aqui, mandatos são como cartas na manga: os olhos frios do blefador em gesto sem pudor, atirando à mesa do bacará político seu ás malfazejo. Mandatos usados no momento preciso, quando os atos de indecência exigem mestria de compositor minimalista e precisão de corte cirúrgico, manobra de corredor de racha e arrojo de bandido que faz arrastão em condomínio de luxo sem temer que a polícia chegue a qualquer momento.

No caso, a garantia de poleiro ao deputado do castelo é manifestação prática, grosseira e mal-intencionada do governador reeleito de Minas; pois somente alguém mal-intencionado dá cobertura e sombra a um corrupto. O corrupto é o pior dos bandidos. Há sangue e dor nas suas mãos; mãos que se apossaram dos dinheiros públicos para uso privado, privando de verbas aquele posto de saúde que não funciona, o hospital que deixa de fazer a cirurgia porque inexiste material, a viatura policial que não pôde acorrer em defesa da vítima por falta de gasolina.

Alguém acha que o deputado do castelo irá praticar agora atos civis dignos de monta, estará penitenciado de seus procedimentos escuros porque fora há meses denunciado na imprensa? Por que a Câmara não o cassou, quando seus comportamentos escusos foram denunciados? Respostas: não, ele não está penitenciado ou regenerado e apto ao convívio político; não foi cassado porque os deputados refugam tanto quanto podem a expulsão de seus pares como um cavalo xucro empaca diante do rio que teme atravessar. Forma-se o conluio e assim se protegem. Para os corruptos não existem rubicões.

E lá vai o deputado do castelo de volta ao cenáculo público, sujo como poleiro de galinha. O ogro volta a seu castelo. E lá dentro nem Deus sabe o que fará nas alcovas fartas - onde se espojará. Nesse Congresso sempre há lugar para um arroto.

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