Boa noite, fantasmas...
Emanoel Barreto
Gosto do silêncio da noite e dos pequenos sons que de repente brotam de-não-sei-onde. O silêncio da noite é feito de mínimos mistérios que se movem com passos de fantasmas invisíveis, eles próprios envoltos em seus atos silentes, meditantes.
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Fantasmas, cavalheirescos, que não perturbam ou fazem gelar o sangue; fantasmas que a mim existem mas não se dizem existentes.
Suponho que estejam em alguma biblioteca multicentenária e nevoenta, cujos corredores intangíveis passem pelo meio da minha sala.
Quem sabe estejam consultando alfarrábios, lendo livros velhíssimos que contenham a solução ou adicionem à vida os segredos indecifráveis da morte e da vida mesma. Daí os pequenos ruídos, sons, estalidos sinceramente sutis: são os fantasmas caminhando.
Nos últimos tempos voltei, noturno, a cultivar antigo hábito: o de ler três, quatro livros de uma vez: dez páginas de um, outras dez de outro, vinte do terceiro, duas do último, quando o cansaço afinal me empurra para dormir. Então, pé ante pé, para não atrapalhar os fantasmas em seu amável conciliábulo, retiro-me e lhes digo: "Boa noite, fantasmas." E sei que eles respondem: "Boa noite."
E durmo.
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