terça-feira, 15 de junho de 2010



O DIÁRIO DE BICALHO

Querido Diário,

Estranho, muito estranho. Mas, hoje, amanheci incapacitado de pensar. Os pensamentos existem, sabia? Têm vida própria. Assim: os pensamentos, penso eu, são uns bichos que moram na nossa cabeça . Ééééééééééé... Ficam escondidos naquelas dobras do cérebro, na verdade cavernas onde se metem os pensamentos e, quando a gente menos espera, pá!, eles chegam e se apoderam de sua mente.

E, como hoje amanheci sem capacidade de pensar, temo que tenha acontecido o seguinte: os pensamentos são guardados pelo cérebro nas cavernas. Uma espécie de estoque, se  que me entende. E, se você pensa demais, se não economiza os pensamentos, plim!, os pensamentos... se acabam. Assim, acho que esgotei a minha capacidade de pensar. Gastei todos os meus pensamentos com planos e táticas inúteis para enfrentar as surtidas de meus inimigos. E, quando isso acontece, quem surta sou eu.

De qualquer maneira, penso que não pensar é uma forma de pensar. É isso! Matei charada. laAchei a pedra-de-toque: quando você pensa que não pensa você está pensando! Pronto! Voltei a pensar, entende? Voltei a pensar, Querido Diário!

E agora, dotado de minhas faculdades mentais plenas e argutas digo na sua cara: descobri uma coisa a respeito de você. Mais claramente, temo que não seja de confiança e esteja passando a algum louco as coisas que escrevo e que esse louco esteja publicando minhas dúvidas e incertezas.

E então, dotados dessas informações sigilosas, insidiosos indivíduos tratam de me atacar subrepticiamente. Se não fosse assim, como teria sido possível aquele atentado de ontem, quando um cadeirante investiu contra mim, brandindo infame punhal? Foi você, foi você, Diário, quem tramou o plano com o cadeirante!

Mas você não contava com a minha astúcia: ontem, sonhei com Dom Sebastião. E sabe o que ele me disse? Garantiu que não morreu naquela batalha de Alcácer Quibir. Aha-haaa!
Peguei você. Agora, quando notar que está traficando pérfidas informações a meu respeito, chamarei por Dom Sebastião. Sou um sebástico, sabia? E, se você e minha sogra me armarem emboscadas  e patranhas, gritarei a plenos pulmões: "A mim, d'El Rey! A mim, d'El Rey!"

Pensando bem, é melhor prevenir que remediar: "Socorro, Dom Sebastião! Socorro! Socorro, Dom Sebastião! Meu Diário quer me pegar!"




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