quinta-feira, 17 de junho de 2010


O DIÁRIO DE BICALHO
Amigo Diário,

Estou no meu escritório, após ter escapado do atentado perpetrado contra mim pela minha mulher. Meu escritório é um bunker. Aqui, nem micróbios gigantes ou qualquer outro agente mortífero conseguirá me capturar. O problema é que está chegando o fim do expediente e vou ter que voltar para casa e enfrentar minha mulher e a mãe dela. Acho que estão conluiadas. Conluiadas, entende? Percebe o terrível peso desta palavra?

Um conluio, amigo diário, é uma coisa cretina. Li certa vez que um conluio acabou com os celtas. Não sei bem o que isso significa, mas, pelo sim pelo não, vou me precatar. Agora, preciso ir embora: todos os empregados já foram embora. Até o chefe sumiu. Mas, espere, o chefe sou eu! Na verdade EU sou o dono do escritório! Estou tão atemorizado que tinha me esquecido...

Vou fazer o seguinte: entro no carro sorrateiramente para evitar de ser visto. Pronto. Entrei. Agora, dirigir para casa. Sei que aquela viatura da polícia parece me seguir. Estou no sinal. Noto que o flanelinha se aproxima e finge pedir dinheiro, mas, na verdade quer me atacar para tomar o carro. Vou arrancar daqui.

Agora, em frente. Pergunto a você, velho diário: por que será que todos me querem mal? Será que eu sou mau e todos são os bons? Mas, se todos são bons, porque querem me afligir? Então, agora, já sei: assumo que sou maléfico, tétrico e rancoroso; desumano, cruel e lancinante. Fico igual a todos e me livro da perseguição infame. Essa é a realidade.

Deve ser por isso que, de repente, muitas vezes penso que o mundo é real demais. Que realidade é essa, que mete medo?

Direto para casa. Cheguei.
 Estranho, minha mulher me recebeu com um lindo, terno e doce abraço. Minha sogra brinca alegremente com meus adoráveis filhos e me dá boa noite. Peraí, será que não percebo que as pessoas me querem bem?

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