quarta-feira, 16 de junho de 2010

Estão baixando o pau em Galvão. É bueno, muy bueno
Emanoel Barreto

Deu na Folha: Exibida com destaque logo que a bola começou a rolar para a estreia brasileira na Copa do Mundo, contra a Coreia do Norte, em Johannesburgo, uma faixa com a frase "Cala a boca, Galvão!" foi recolhida rapidamente nas arquibancadas do estádio Ellis Park, nesta terça-feira.

O adereço estava colocado exatamente no centro do campo, pouco acima das placas de publicidade, e endossava campanha iniciada no Twitter, desde a última sexta.

Bastou começar o jogo inaugural do Mundial na África do Sul, entre a equipe da casa e o México, que os temas ligados ao torneio já estavam entre os dez mais comentados no famoso microblog. E o assunto que liderava o ranking era justamente "Cala boca Galvão", referindo-se ao locutor esportivo da "Rede Globo".


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O REPÚDIO a Galvão Bueno "é a maior manifestação, desde as Diretas-Já", é o que andam dizendo no Twitter. A comparação, plena de ironia, de sarcasmo nascido de uma certa repulsa à figura imperial-ridícula do locutor da Globo, tem um quê de político em sua matriz profunda.

Figura icônica da hegemonia global, Bueno terminou por representar, com seus comentários cínicos, falaciosos, toda a essência perversa da rede dos Marinho. Não é ele quem, mesmo a Seleção fazendo jogos lamentáveis, insiste em que tudo está bem? Não é ele quem endeusava Ronaldinho, apesar de apresentações abaixo da crítica? Afinal, não é a Globo a emissora que inverte realidades, apresenta um país de faz-de-conta, alegre e fagueiro?

Na ditadura, o general Médici - isso está registrado historicamente - dizia que, ao assistir o Jornal Nacional via um mundo cheio de problemas, guerras, insurgências, fome e desolação, enquanto no Brasil "tudo ia bem", e isso o "tranquilizava".

Agora, com a campanha anti-Bueno, pode-se perceber o quanto aquele locutor é mal-visto. E o é exatamente porque as pessoas de alguma forma percebem difusamente que sua presença representa os interesses e a desfaçatez da Globo.
A mesma Globo que na campanha das Diretas-Já, após ocultar aquele movimento de massa, foi alvo do repúdio popular, quando as pessoas gritavam "o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo", e atacavam viaturas da emissora. A Globo, enfim, divulgou o movimento, mas dentro do seu padrão manipulatório: um repórter, em São Paulo, mostrava grande manifestação de apoio às Diretas como parte das comemorações do aniversário da cidade.

Parece que a figura icônica de Bueno está mesmo sob fogo pesado. Mas, não creio que a emissora o vá dispensar, até mesmo porque deve ter um contrato milionário e com alguma custosa cláusula penal, que desanimaria tal iniciativa.

Mas é bom que isso aconteça. Bueno, muy bueno.

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