sábado, 19 de junho de 2010

O DIÁRIO DE BICALHO
Diário confessor,

Ontem fui ao cardiologista, que garantiu-me que está tudo bem. Sorri para ele, mas não acreditei. Manifestei uma alegria mitigada e saí. De repente, taquicardia. Eu não disse? Agora meu coração se volta contra mim. Meu coração quer me morrer.

Penso às vezes em deixar este corpo tão traiçoeiro. Em vão. Tentei milhões de vezes, estudei com zen budistas, meditei com um baba indiano que me apareceu, fiz terapia de vidas passadas tentando encontrar algum corpo meu de antigamente para nele me abrigar. Inútil.

É impossível sair-se de si. Você pode livrar-se de alguém, mas nunca poderá escapar de si mesmo. Que pena. Logo agora, que estou com grandes planos para o futuro, o passado que em mim me habita, o passado que é meu corpo, diz que não. E tenho que continuar morando nesse sarcófago que a vida me deu.

E agora veio-me uma terrível dor de cabeça.
Desisto. Vou continuar preso ao que restou de mim.

Um abraço,
Bicalho

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