A Folha de S. Paulo ou de como um jornal pode ser pregoeiro da desgraça
Emanoel Barreto
Estranha, muito estranha a mensagem da Folha. Numa primeira página em que admite a vitória da adversária ideológica, o jornalão exibe discurso iconográfico em que a apresenta e a seu opositor como habitantes de um mundo, melhor, um país surrealista, demencial, depressivo e deprimente. A Folha faz de tudo, até mesmo na undécima hora, para passar a ideia de que provável eleição de Dilma levará o Brasil a situação lastimosa.
Tudo no texto visual é triste, desolador, sorumbático, aterrador. A realidade nacional é cifrada em cor amarelada, num matiz social que impressiona o olhar com um sentido de coisa ruim. Todos os seres representados, incluindo o ícone de Serra, são entes oprimidos, privados de vontade, angustiados, mergulhados em situação de comleta decrepituda política e existencial, vivendo a vida como se esta por si só fosse um interminável e inexplicável exercício de padecimentos.
Vendas amordaçam esse enigmático mundo sem sentido. Serra é mostrado com aspecto infantilizado, choramingas. Um pedinte político. O brasileiríssimo tucano traz o bico preso como se vivesse luto.
Tocos de árvores sangram. Seres des-almados portam votos nas mãos como se caminhassem a esmo, perdidos em ilações sombrias. Vestidos com o azul de Serra são uma procissão, uma espécie de préstito da desgraça iminente.
Dilma tem o semblante sinistro, mão direita de lutador de boxe. Presa pelo pé à cabeça de Lula é de alguma forma também um lêmure sem vontade própria mas, mesmo assim, tem algo de maligno em sua figura fantasmática.
O discurso figurativo não alerta a um perigo, na verdade deseja que o país ingresse num tempo de trevas e de medo. A jornal como pregoeiro de desacerto e da hacatombe, desejando o mal ao futuro próximo.
Mas, apesar da Folha, amanhã há de ser outro dia. E bem diferente do que anseia o jornal dos Frias.
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