domingo, 24 de outubro de 2010

Alfredo Vizeu reitera apoio ao "Queremos um jornal!"
Emanoel Barreto



  O Professor Alfredo Vizeu (foto), uma das mais lúcidas vozes da nossa categoria, enviou-me há pouco alentada manifestação de apoio ao movimento "Queremos um jornal!" desencadeado pelos estudantes de jornalismo da UFRN.

Vizeu é uma das mais representativas figuras do mundo acadêmico setorial e um intelectual de vanguarda nas lutas em favor do jornalismo e da democracia. Vizeu defende que a partir desse movimento se comece uma grande campanha nacional em defesa do jornalismo. Abaixo, seu depoimento a favor da campanha:

Caro Emanoel,
O movimento de vocês deixou-me extremamente sensibilizado numa luta que não só eu, seria muita pretensão de minha parte, mas uma centena de colegas, amigos e amigas vêm levando há muito anos em defesa do Jornalismo. É como dizem os poetas Almir Sater e Renato Teixeira em Tocando em Frente: "penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente". 
Com certeza, não só no Jornalismo, mas na vida devemos seguir em frente, numa luta permanente e constante em defesa do que acreditamos. Foi isso, na verdade o movimento que vocês começam que me levou a algumas reflexões que gostaria de compartilhar com todos e todasHá um bom tempo estou afastado da militância sindical e partidária. Hoje, com o passar dos anos, minha preocupação maior como cidadão, professor e jornalista   é procurar incentivar não só meus colegas, mas alunos e alunas a participarem da luta em defesa da democracia, da cidadania e da ética que se expressa, no meu caso, no campo jornalístico. 
Por isso, a preocupação constante em defender, contribuir para o avanço, legitimação e consolidação do Jornalismo atividade central na democracia. Como bem observou Lorenzo Gomis, em Teoria Del Periodismo : como se forma o presente: “O que faz o Jornalismo? Interpreta a realidade social para que homens e mulheres possam entendê-la, adaptar-se a ela e modificá-la. O Jornalismo é um método de interpretação sucessiva da realidade social”. É dentro desse contexto que se situa o Jornalismo. 
A decisão do STF que derrubou a exigência do diploma; alguns críticos que são contra um curso autônomo e independente de Jornalismo abalaram a auto-estima dos professores e dos estudantes. É preciso resgatar a auto-estima em ser jornalista. O resgate dessa auto-estima está ligado a uma formação jornalística ética e de qualidade. Nas palavras de Gabriel Garcia Marques, em A Melhor Profissão do Mundo: “toda a formação deve se sustentar em três vigas mestras: a prioridade das aptidões e das vocações, a certeza de que a investigação não é uma especialidade dentro da profissão, mas que todo jornalismo deve ser investigativo por definição, e a consciência de que a ética não é uma condição ocasional, e sim que deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro”.  
Entendo que o Jornalismo deve perseguir uma utopia que deve mantê-lo sempre caminhando: o respeito intransigente ao ser humano, a dignidade no tratamento de homens e mulheres. Relembro que é dever do Jornalismo, a busca da verdade e a ética como singularidade. Uma utopia a ser perseguida diariamente. Um Jornalismo de frontes levantadas. Utópico sim, utópico como defendia Paulo Freire: “...o utópico não é o irreliazável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar a estrutura desumanizante e anunciar a estrutura humanizante. Por esta razão, a utopia é também um compromisso histórico”. 
O  Jornalismo é utopia realizável de um compromisso histórico com a verdade, a ética, a liberdade e a democracia. Por isso, enfatizo, ações como esta dos colegas, alunos e alunas de Jornalismo do Rio Grande do Norte têm tudo para virar uma grande campanha nacional em defesa do Jornalismo que mobilize toda a sociedade. Precisamos ainda reforçar o trabalho que vem desenvolvido de uma forma incansável pelas entidades do campo, respeitadas as suas singularidades, Federação Nacional de Jornalistas, Fórum Nacional de Professores de Jornalismo e Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo. 
Concluo apropriando das reflexões de Paulo Freire para o campo jornalístico. A eficácia da atividade jornalística e o conhecimento do Jornalismo estão intimamente ligados ao que Freire colocava como a capacidade de abrir a “alma” da cultura, de aprender a racionalidade da experiência por meio de caminhos múltiplos, deixando-se “molhar, ensopar” das águas culturais e históricas dos indivíduos envolvidos na experiência. É dimensão crítica do conhecimento jornalístico, num imbricamento entre teoria e prática. Mais uma vez parabéns ao “povo” do Jornalismo do Rio Grande do Norte, 
um abraço fraterno, Alfredo.

Um comentário:

Themis disse...

É... Estou emocionada! Vamos À luta!