quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A descoberta de que há senadores honestos e o seu triste fim
Emanoel Barreto

A história a seguir passou-se em 1809 no requintado ambiente do English Cafe. Meu interlocutor, um velho senhor, nobre proprietário rural de ancestral família, buscou-me ali para uma conversa que de antemão confidenciou como "importantíssima". Eis o que se segue:
...
Meu bom amigo, obrigado por ter vindo. De nada, que é isso?, estou a seu dispor. Pois bem, informo ao amigo que após anos e anos de ingentes esforços investigativos que envolveram custosas investigações a cargo de competente equipe de detetives, descobri algo de que jamais se suspeitara. O que descobriu? Descobri que há senadores; senadores honestos; poucos, mas os há. Hummmm, isso é importante. Sim, muito importante.

E prosseguimos:
Pois bem, depois disso descobri algo que me aterrou. Por exemplo? Os senadores honestos estão sendo mortos, amigo, mortos. Como? Mortos? Sim, estão sendo mortos. Quem os mata? Os matadores são sequazes a soldo dos outros senadores, a banda podre. Meu Deus, mas como? Muito simples: os senadores honestos são atacados a golpes de clava pela Divisão Especial de Massacres, entidade secreta do senado, encarregada de tão vil missão.

E continuamos a conversa:
Mas, o pior ainda está por vir. O que mais de tão terrível poderia ainda acontecer, amigo? Os corpos, amigo; os corpos são vendidos aos chineses. Aos chineses? Sim, como não? Os chineses, e o informo disso de forma segredual, são uma raça mutante. Mas isso é incrível. Sim, incrível mas verdade. Os chineses foram criados pelos macacos mono-carvoeiros, sinistros cientistas, hábeis manipuladores de genes. Tais macacos criavam gatos da Bessarábia, que têm os olhos puxados, e os misturaram com marsupiais, num cruzamento avançado de genes, e obtiveram os chineses. Mas, com que finalidade? Não sei. Isso é segredo mantido a sete chaves. Só sei que os chineses foram criados pelos mono-carvoeiros, e o que é pior, saíram de controle, apoderaram-se de todos eles e agora são os chineses quem dão as cartas. Os mono-carvoeiros agora trabalham para os chineses, que importam os corpos dos senadores.


O Cafe fervilhava e nossa conversa fluía:
E os corpos, para que servem os corpos? Tenha paciência. Quero informá-lo que eu também faço experiências. O senhor? O senhor, tão calmo, tão... o senhor é um cientista? Um cientista e ainda por cima louco? Não, não sou um cientista louco, mas devo dizer que tenho alguns espécimes chineses em um biotério e ali os submeto a experiências. Que tipo de experiências? Quero saber se eles, com aqueles olhos apertadinhos, veem as coisas pela metade. Isso é importantíssimo, sabia? Sim, saber disso é algo importantíssimo, é claro. E quando eu tiver a certeza disso, sabe o que de bom acontecerá? Não, não sei. Economizaremos luz, amigo. Economizaremos luz, isso não é uma coisa boa? Quem vê só a metade precisa usar a metade da luz: em casa, nos escritórios, nas ruas, nas fábricas... Faremos operações em todas as pessoas e todos terão olhos amendoados. Mas isso é sensacional!

E continuamos:
Mas, e os corpos dos senadores? Bem, agora chegamos ao que eu queria: os chineses estão importando corpos para fazer zumbis. Sumbis assassinos! Já pensou, zumbis assassinos? Será o fim da humanidade. Sim, será o fim; soube disso pelos espécimes que tenho em meu poder. E agora? Agora, prepare-se para a maior revelação. Qual? Eu também sou senador, amigo. Sou um senador honesto e estou sendo perseguido pela Divisão Especial de Massacres. O senhor? Um senador? E, ainda mais, honesto? Sim, honesto; graças aos ensinamentos do meu velho e falecido avô.

E tudo terminou assim:
Agora, vamos depressa fugir. Por quê? Porque os membros da Divisão Especial de Massacres estão se aproximando. Vê aquele homem ali, bem vestido, cartola elegante?, ele é um sicário. Embaixo da mesa tem uma clava para me matar. E vai matar você também, pensando que é um senador honesto. Mas, se o senhor sabia disso, por que me convidou para essa reunião? Por um motivo simples: eu não queria morrer sozinho.

Último ato:
Então, o senhor elegante levantou-se da mesa e partiu para cima de nós com sua possante clava...
E o que aconteceu depois eu já não lembro...

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