terça-feira, 31 de agosto de 2010

A última capa do Jornal do Brasil: o velho JB marcou história na vida nacional
Parem as prensas!
Emanoel Barreto

Após anos e anos de lento desmoronamento, vem hoje afinal ao chão o grande edifício daquele que fora o Jornal do Brasil. Houve instantes da vida nacional, especialmente quando da vigência da ditadura de 64, que funcionava o JB como uma espécie de patrimônio imaterial, vela votiva à democracia violada, chama ao vento da tempestade dos brutos - jamais apagada.

Mas, empresa que é, não resistiu aos desvãos do mercado e encaminhou-se passo a passo ao seu destino final. Seu atual proprietário, Nelson Tanure, já havia levado à falência a Gazeta Mercantil, outro grande nome no panteão jornalístico nacional.

A fênix JB não fez seu ninho nas cinzas protocolares da lenda que narra o renascimento do pássaro fabuloso após incendiar-se a cada mil anos. Ao contrário, suas cinzas são os luzentes aparelhinhos de telas cintilantes - esses mesmos que você e eu estamos utilizando.

Pelo menos agora não creio que o jornalismo de internet tenha a mesma força que o jornal impresso, mesmo sendo esta plataforma - para usar termo grato aos modernosos - desgastada por coisas como a falta de hábito de leitura do brasileiro, o preço do jornal e, claro, a própria internet.

O perigo do jornalismo na internet, o jornalismo informativo, digo, é a superficialidade, já que os limites do corpo humano no manuseio do mouse e a vista sofrem e muito. Quanto à opinião, não. Um bom texto opinativo pode demolir ou elevar alguém às alturas em 30 ou 40 linhas. E mesmo que isso não signifique o acatamento da opinião de forma pavloviana, é empresa bem mais fácil de realizar que uma reportagem que, em jornal ou revista, viesse a ocupar página inteira ou mais de cinco páginas, respectivamente.

Mas, é do JB que falo. Vai-se o primeiro grande jornal, num tempo que cada vez é mais rápido e a história vive precipitações quase que diariamente. O tempo acelerado, a história em disparada, o homem cada vez mais louco. E assim vamos nós, e a nossa nave vai. E o JB fica pálido e difuso - como na ilustração lá em cima, de sua última primeira página. OK, parem as prensas!
 ...
M. F. do JB
Por Marcos Sá Correia

O que veio primeiro: M.F. ou JB? Com os nomes grafados por extenso, não há dúvida: aos 110 anos, o Jornal do Brasil está anunciando uma nova fase e seu diretor, Manoel Francisco do Nascimento Brito, se retirou aos 78 anos das funções administrativas. Mas com as siglas é diferente. Como os suplementos que se encartam em edições regulares, em mais de meio século de história do jornalismo brasileiro, elas não circularam separadamente.


Fora das páginas do JB, M.F. sequer existia. Era Dr. Brito, para os íntimos. As iniciais só valiam no cabeçalho, onde saíram diariamente durante 52 anos enquanto ele ia trocando de título - superintendente, diretor, diretor-executivo ou presidente - sem com isso mudar de posto. Às vezes, aquelas letras pontuadas, seguidas do sobrenome, também assinavam esporadicamente reportagens, onde quase sempre era audível o ronco dos editoriais. Em dezembro de 1967, por exemplo, sete anos antes da derrota dos Estados Unidos, ele trouxe de uma viagem ao Sudeste da Ásia a certeza de que "o americano atualmente no Vietnam está consciente de que a sua luta não tem dia e hora marcados para terminar. Já se informou do óbvio: está ganhando, sabe que a ganhará, mas não ainda quando poderá ganhá-la. Porque esta vitória, que interessa a todos nós, não pode ser somente a mais imediata, apenas uma vitória militar". A previsão falhou. Mas deixou fixado princípio de que, tal como o JB, M.F. não tem papas na língua. Discorda das unanimidades vigentes com toda a naturalidade. Tanto que, para ele, os países que não entraram no clube dos ricos ainda se chamam "subdesenvolvidos".


Em muita coisa as quatro letras se confundiam. O jornal e seu chefe eram bons de briga, tinham humor, funcionavam melhor nas crises de antigovernismo e eram tão bem paginados que, ao sair às ruas do Rio de Janeiro 40 anos atrás, causavam espanto pelo tamanho de sua elegância. Diante do JB, os outros jornais se sentiam feios e antiquados. E ficou na memória de quem passou pela redação daquele tempo o dia em que o diretor chegou da rua se queixado da ostensiva curiosidade que o cercava. Vinha de um almoço no Itamarati. Cruzara a pé o velho Centro da cidade, descendo a Avenida Marechal Floriano até a Rio Branco, onde ficava a antiga sede do jornal. Passara pelos sobrados que na época dominavam o varejo carioca de artigos populares e por uma delegacia que ainda expunha na calçada os batedores de carteira, para reconhecimento público.

Tinha 1,89m de altura e o porte de quem nadava desde os 13 anos, lutava jiu-jítsu com o pioneiro Hélio Gracie duas vezes por semana e todas as manhãs fazia ginástica em casa com um personal trainer muito antes que o personagem figurasse na agenda da grã-finagem. Trajava um daqueles ternos de corte tão preciso que até hoje lhe permitem passar horas sentado sem afrouxar um botão e emendar o expediente com um jantar de cerimônia sem trocar roupa, sinal de boa educação e bom alfaiate. "Claro que só podia chamar a atenção. O Sr. parece um Galaxie", comentou o jornalista Pedro Gomes. O Galaxie era então o maior e mais luxuoso automóvel fabricado no Brasil.


A não ser pela presença ininterrupta no cabeçalho, M.F. apareceu poucas vezes no jornal que comandava. Há poucas palavras sobre as suas cinco décadas nos arquivos da casa. E até para aposentá-lo, meses atrás, gastou-se pouca tinta. Ele encerrou a carreira com uma nota de 27 linhas. Para transformá-lo em figura pública, bastava o fato de ele e o JB serem feitos à imagem e semelhança um do outro. Quando assumiu a direção, o Jornal do Brasil passava dos 58 anos de publicação contínua. Mas só com ele passou a ser conhecido pela abreviatura. Antes, faltava-lhe popularidade para tanto. O JB surgiu na era M.F., dividindo seus 110 anos em duas metades perfeitamente desiguais.

Cronologicamente, a primeira metade é a mais longa. Estréia em 1891 com um manifesto monarquista três anos depois da Proclamação da República e acaba no governo Juscelino Kubitschek. A segunda, mais curta. Começa no fim da década de 50 com a mutação gráfica que, a princípio entrincheirada na seção de esportes para não assustar os leitores, acabou tomando conta do JB inteiro. E não só dele. Sua receita caiu no gosto da concorrência e por isso essa etapa de sua história nunca terminou. Agora mesmo pode estar metamorfoseando por imitação um diário qualquer no interior do país. Antes de transformar-se, portanto, o Jornal do Brasil era muito parecido com todos os jornais brasileiros. Depois, todos os jornais brasileiros se parecem um pouco com o Jornal do Brasil.

Os 52 anos da dupla são longos, quase um reinado. Na imprensa diária, dão para mais de 19 mil manchetes. No Brasil, cobrem quatro constituições, dois regimes civis, 15 presidentes da República - ou 17 governos, contando a junta de 1969 e o bis de Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto. Vendo-os passar do alto de suas páginas, o diretor aprendeu que "neste país os poderosos sempre acham que podem tudo, que são eternos". Nada como a transitoriedade alheia. Em agosto de 1954, levado por Aníbal Freire, o ex-ministro do STF que dirigia o Jornal do Brasil na ocasião, M.F. pisou pela primeira vez num palácio. Tinha 32 anos, feitos naquela semana. Iam visitar Getúlio Vargas num Catete cercado de boatos por todos os lados, exatamente na véspera do suicídio do presidente. Lá, o ex-ministro entrou no gabinete. Ele ficou na ante-sala e, à falta de interlocutor melhor, puxou conversa com o sentinela: "A situação está preta, hein?" O soldado não regateou: "É hoje, doutor." Foi sua estréia na política. Trinta e tantos anos depois, encarava os poderosos com olho de ex-patrão. No governo José Sarney, reconhecia na Presidência da República o antigo correspondente do Jornal do Brasil em São Luís do Maranhão. No governo Fernando Collor, tinha na Presidência um ex-estagiário na sucursal de Brasília.

Acostumou-se a ver nas autoridades precisamente o que elas querem esconder. Logo depois da posse de Collor, a ministra Zélia Cardoso de Mello, uniformizada como czarina da Economia, visitou o jornal para explicar aos editores o confisco da poupança. Conversa seriíssima, a não ser pelos minutos que o diretor da casa interrompeu a reunião para cumprimentá-la, falou muito, ouviu pouco e saiu sem uma informação econômica. Mais tarde, perguntou pelos resultados do encontro. Foi bombardeado por comentários técnicos e ofereceu aos jornalistas um fato decisivo: "Vocês viram como ela se senta? Essa moça vai acabar se metendo num escândalo." Cruzando as pernas, a ministra lhe revelara sem querer o futuro. Cairia por quebra de decoro com o ministro da Justiça Bernardo Cabral.

Lastreava a independência do jornal num princípio simples: "No Brasil, as pessoas acham que podem ligar para dono de jornal pedindo para não dar uma notícia. Isso é chato, porque jornal vive de notícia." Os métodos é que podiam ser complicados. Em 1967, o jornalista Walter Fontoura publicou na coluna Informe JB uma nota que irritou o deputado Chagas Freitas, proprietário de O Dia. Dizia que, em seu jornal, ele noticiava como seus os projetos apresentados pelo deputado Raimundo Padilha. Fontoura foi chamado ao quinto andar para uma advertência: "Chagas é como se fosse meu irmão, Walter. Ele me telefonou, reclamando de você. E eu disse que iria demiti-lo", confessou-lhe. O que poderia fazer o funcionário numa situação dessas? "Nada", explicou-lhe M.F. "Se ele um dia perguntar, diga que foi demitido e recontratado imediatamente."

No governo militar, sob o AI-5, o Jornal do Brasil publicou a lista de presos políticos que o Brasil trocaria pelo embaixador da Alemanha, seqüestrado no Rio de Janeiro. O diretor foi chamado à Polícia Federal. "Essas audiências eram sempre no fim da tarde, para parecer mais sinistras", ele conta. "Mas a conversa, em si, até que foi amável. Mas ele queria saber quem informara o JB. Respondi que isso era segredo profissional. Nesse caso, eu teria que dormir no xadrez. Só tenho medo de rato e barata", retruquei. Ele riu: "É o que mais temos aqui." Às 11 da noite, mandou-me embora. Do fundo do corredor, eu me despedi: "Agora vou lhe contar quem me deu a informação, só para mostrar como são as coisas." Deu o nome do ministro da Justiça.

Para quem hoje folheia sua coleção, a primeira metade da história do Jornal do Brasil dá a impressão de que passou depressa. Nascido no governo Deodoro da Fonseca, ele mudou de século sem mudar de cara. Passou por duas guerras mundiais e quatro revoluções no Brasil sem que a agitação externa deixasse marcas profundas em sua fachada. Em sua primeira página, uma coluna de notícias chamada O Dia de Hontem virou seção de classificados praticamente sem alterações de forma. O tempo tornou-o cada vez mais plácido. Com Joaquim Nabuco, era monarquista quando os republicanos chegaram ao poder. Com Rui Barbosa, civilista numa república fardada.

 Com Ernesto Pereira Carneiro, que ganhou do Vaticano o título de conde ajudando o Rio de Janeiro a enfrentar a gripe espanhola em 1918, tornou-se católico. Enfim, o tesoureiro José Pires do Rio, nos idos de 1930, converteu-o em "boletim de anúncios", o que lhe valeu a alcunha de "jornal das cozinheiras". Foi esse o Jornal do Brasil que há mais de 40 anos virou de cabeça para baixo na "reforma" - reforma entre aspas por ser a mãe de todas as reformas que desde então agitam periodicamente a imprensa brasileira. Não se tratou propriamente de um projeto, mas de experiências feitas "a duras penas e com grande relutância", segundo o diretor. O fato é que em 1959 os classificados ainda tomavam todo o lado esquerdo de sua primeira página. E em 1963 o assassinato do presidente John Kennedy teve uma edição que não faria feio se saísse esta manhã de suas máquinas. Foi assim que o Jornal do Brasil, sexagenário, virou JB.

O novo modelo teve muitos autores e paternidade discutida. Foi gerada na redação do Jornal do Brasil, que na Avenida Rio Branco ficava dois andares abaixo da administração. "Mas eu descia toda hora para ver o que estavam fazendo", diz o diretor. A reforma puxou ao pedigree literário do editor-chefe Odilo Costa, filho e aos traços do escultor Amílcar de Castro. Mas uma coincidência não se discute. Ela começou assim que M.F. chegou dos Estados Unidos, depois de um curso na Universidade de Columbia para editores. Voltou disposto a fazer um produto diferente. Ou seja, igual aos americanos. Acabou dono do primeiro jornal tipicamente brasileiro.

Na época, ele se considerava aprendiz de jornalista. Vinha de outras ambições profissionais. Fizera dois anos de Engenharia, como o pai, que trabalhou no Nordeste em obras contra as secas. Depois, a Faculdade Nacional de Direito, de olho na diplomacia, como seus dois tios. Todos fugindo do comércio. Seu avô foi dono da Casa Manoel Francisco Brito & Cia., grande atacadista na Rua do Acre. Ele, antes de ser advogado, diplomou-se como piloto. Ao alistar-se no CPOR, só achou vaga na Aeronáutica. Aprendeu a voar no Brasil e, com o esforço de guerra, treinou para piloto militar nos Estados Unidos. Passou quatro anos como instrutor, levantando às cinco da manhã para servir na base do Galeão. A essa hora, esperando o transporte da Aeronáutica, só via passar pela sua porta na Praia do Flamengo o carro oficial do marechal Eurico Gaspar Dutra, fanático madrugador, a caminho do Ministério da Guerra. Em 1946, formou-se em Direito. Mas nunca perdeu as "manias" de avião e política externa. Como diretor do Jornal do Brasil, mais de um governo tentou agradá-lo oferecendo-lhe missões diplomáticas. Em 1977, o ministro do Exército Sylvio Frota, secreto candidato à Presidência no governo Ernesto Geisel, chegou a convidá-lo para ministro das Relações Exteriores. Mas ele escapou da vida pública que, fora o Itamarati, só o tentou uma vez. No começo dos anos 60, ensaiou uma candidatura a deputado federal pelo PTB. No primeiro comício, puseram-lhe nos braços o filho de um eleitor e o menino molhou sua roupa. Ali mesmo ele desistiu da política. No fim da carreira, resumiria toda essa experiência num axioma pessoal: "Jornal não é para fazer acordo."

Entrou no mercado editorial por acaso. Em 1949, trabalhando como advogado no escritório de João Dunshee de Abranches, foi chamado pelo sogro para organizar a Rádio Jornal do Brasil. Tratava-se do Conde Pereira Carneiro, que havia comprado a marca quando a Primeira Guerra Mundial, com a explosão dos preços do papel, quebrou a empresa. Conta que aceitou a tarefa por honra da firma: "Resisti durante quatro meses, alegando que não entendia nada daquilo. Mas, quando entrei, entrei para valer. Mudei a rádio de alto a baixo." Cinco anos depois, com a morte do conde, passou a mandar no jornal. "Não tinha experiência, mas ficava na oficina até três horas da manhã", diz ele. Pegou "uma circulação de seis mil exemplares por dia e, antes mesmo da reforma, ela batia em 60 mil exemplares". Naquele ano, comprou máquinas novas, pagando à vista, e atropelou velhos dogmas administrativos da casa: "O jornal tinha funcionado durante anos com um chefe da circulação que tinha horror a gastar papel. Acontecesse o que acontecesse, mantinha o consumo entre três e cinco toneladas por mês. Ou seja, o Jornal do Brasil não vendia mais simplesmente porque não imprimia."

Duas décadas mais tarde, comandava o maior jornal do Rio de Janeiro, com tiragem de 150 mil exemplares nos dias úteis e 230 mil nos domingos, quando teve um derrame durante um campeonato de pesca na Venezuela. A puxar para o barco um marlin - "de 350 quilos", afirma -, sentiu o braço direito cair de repente. Havia perdido para sempre os movimentos desse lado do corpo. Começou em alto-mar uma luta de 22 anos com a doença. A lancha levou quatro horas para largá-lo no cais, "no chão frio". O socorro médico demorou a chegar e veio na forma de uma internação de seis dias num hospital público de Maracaibo. Nos oito meses seguintes, ele duelou com as seqüelas em clínicas americanas. Emendou quatro operações, perseguindo os efeitos dos coágulos pelo resto do organismo. Nas vésperas da última cirurgia, seu filho Manoel Francisco viu-o no Hospital Rusk Memorial, de Nova Iorque. Estava com 71 quilos. Isso, num homem daquela compleição, quer dizer pele e osso. Ele não esperou pela reação do filho. "Virei uma manjuba", anunciou-lhe, levantando o dedo mínimo da mão esquerda para reforçar a dicção emperrada. Dito isso, caiu na gargalhada.

Quarenta e oito horas depois da operação nos pulmões, ainda na UTI, pediu para o tirarem de perto de um paciente que, com queimadura generalizada, balbuciava sem parar que estava nas últimas: "Ele está morrendo e eu não." No quarto, aprendeu sozinho a esticar o braço até a mesa de cabeceira e catar os chocolates que as pessoas deixavam no hospital, ao visitá-lo. Desembrulhava bombons com a mão esquerda que, dali para a frente, serviria para tudo - escrever, atalhar o gesto das pessoas que, ao cumprimentá-lo, espichavam a mão para o lado paralítico, dirigir automóvel. Só ele sabe o que isso lhe custou: "Um dia, a fisioterapeuta me chamou para um passeio. Lá fui eu por Nova Iorque, andando torto, até que ele fez sinal para um ônibus e mandou que eu subisse sozinho. Levei uns quatro minutos para vencer a escada. A bordo, duas velhinhas se levantaram para me ceder o lugar. Mas no ponto seguinte ela parou o ônibus de novo e me disse para descer. Foram mais quatro minutos com os passageiros todos esperando."

Na alta, a fisioterapeuta americana deu-lhe um livro de ginástica facial. Vinte e dois anos depois, ele continua fazendo a série inteira de exercícios antes de dormir. Acorda às sete da manhã para duas horas regulares de fisioterapia, cinco vezes por semana. Ultimamente, anda empenhado num programa de reeducação neurológica. Em compensação, quando vai a festas, dança. Voltou ao Brasil em cadeira de rodas. Três dias depois, de pé, reassumia o Jornal do Brasil, que não era mais o mesmo. Em pouco tempo perderia a condessa Pereira Carneiro e a saúde financeira. Lamenta a morte da sogra ainda hoje: "Era uma mulher inteligente. Nunca tivemos um desentendimento grave. Quando discordávamos em alguma coisa, dizia: ‘Faça o que quiser, mas a responsabilidade é sua.’ Jornal tem que ser assim. Onde todos mandam, ninguém manda."

Nesses 52 anos, M.F. e o JB cresceram e adoeceram juntos, sem nunca se entregarem inteiramente às administrações profissionais convocadas para resolver seus problemas financeiros. Até nisso eles continuaram parecidos. Transformaram a velha valentia em briga diária pela sobrevivência. Com a crise, a empresa ficou atrasada em muita coisa. Mas, exatamente pelo anacronismo, manteve pelo menos um oásis no primeiro plano da imprensa brasileira: uma redação à antiga, onde os jornalistas não fazem de conta que são executivos. M.F. sempre disse que preferia jornalistas a executivos.

(Marcos Sá Corrêa, diretor de Redação do Jornal do Brasil nos anos 80, é editor da revista eletrônica Notícia e Opinião (www.no.com.br).)











Nenhum comentário: