sábado, 4 de setembro de 2010

Parece que falhou
Emanoel Barreto

Diz a Folha: Pesquisa Datafolha realizada ontem e anteontem em todo o país mostra estabilidade no quadro eleitoral: Dilma Rousseff (PT) oscilou de 49% para 50% em uma semana, e José Serra, que estava com 29%, tem 28%. Marina Silva (PV) está com 10%, contra 9% da semana anterior.
...

ISSO, A PRIORI, é indicativo de que não há um movimento de opinião pública adesista à campanha pela desestabilização da candidatura Dilma. Para que se configurasse tal situação seria necessário algo mais: uma mobilização de sociedade civil, o que não se dá.

O discurso enfático da mídia em torno do assunto visa suscitar essa mobilização. Com isso ganharia algo importantíssimo a qualquer empreitada político-ideológica: legitimidade. Ou seja, quando o discurso de um grupo orgânico se transfere ao social há como que uma transubstanciação ideológica: a essência migra do emissor do discurso e se imbrica ao rumor das ruas que o emplastra à consciência civil desperta por esse mesmo discurso inicial.

Ao que tudo indica esse processo não está, até o momento, ocorrendo. A reivindicação serrista para que seu falar se coadune às ruas não está obtendo o resultado desejado. O que todo discurso cobra do socal é exatamente isso: passar a ser social, obtendo consequentemente legitimidade. Parece que falhou.

O pronunciamento serrista intenta, em sua semiose, fazer o que se chama de transnominação. Explico: eles chamam Dilma de ideologicamente corrupta. Tentam tornar a palavra "corrupta" sinônima de seu nome. Havendo isso houve a transnominação. Havendo esta e surgindo o grito das ruas, teriam atingido seu intento. Parece que falhou. Até agora, falhou.

A análise abaixo é excerto
da Folha de S. Paulo

Só uma tempestade pode mudar a maré de bonança de Dilma



MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

A pesquisa Datafolha divulgada hoje revela a estabilidade do cenário eleitoral na disputa pela Presidência da República. É a primeira pesquisa, desde o início do horário eleitoral gratuito, em que a variação na diferença entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) fica dentro da margem de erro, que é de dois pontos percentuais.


No levantamento anterior, 20 pontos separavam a petista do tucano. Agora, são 22.


Do empate técnico, que perdurou de maio a julho, Dilma cresceu cinco pontos no início de agosto, após sua participação no "Jornal Nacional" da TV Globo.


Com a propaganda eleitoral, a petista subiu mais oito pontos ao longo do último mês. Agora, oscila positivamente apenas um ponto. Serra caiu oito pontos em agosto, e agora tem oscilação negativa de um ponto.


O quadro pode refletir a cristalização da preferência dos eleitores. O processo de formação do voto -que se sedimenta sobre o grau de conhecimento dos candidatos e os atributos de imagem que o compõem- já apresenta importantes definições.


Por meio de comunicação eficiente, de capilaridade expressiva, a maioria do eleitorado sabe que Dilma é candidata de Lula e sobre ela deposita a expectativa de continuidade aliada à capacidade técnica para exercer o cargo.


Ela já é mais candidata à Presidência do que candidata do presidente. Prova dessa aparente cristalização do voto encontra-se na evolução do conjunto de eleitores que se dizem totalmente decididos sobre seu candidato.


Em dez dias, esse segmento cresceu quatro pontos e alcança 81%. Hoje, 18% dos entrevistados dizem que ainda podem mudar de candidato. Eram 27% em julho.


Como exercício de projeção, pode-se calcular como ficaria a intenção de voto caso esse estrato dos que cogitam trocar de candidato realmente decidisse fazê-lo.


Dilma ficaria com 46%, Serra com 27% e Marina com 10%. Ainda assim, a petista teria 54% dos votos válidos.


Em condições normais, sem fatos que abalem a concentração do voto de um ou outro candidato, espera-se a manutenção da tendência.


Mas, vale a lembrança de que, em 2006, antes da denúncia dos "aloprados do PT", Lula tinha em 4 e 5 de setembro 51% das intenções de voto contra 27% de Geraldo Alckmin (PSDB). O presidente chegou nas urnas com 45%, o tucano com 38% e houve segundo turno.



Nenhum comentário: