A comunicação como arena trágica
Emanoel Barreto
A charge da Folha revela como a desinformação pode ser programada e induzida pela informação. Ou seja: informação manipulada para surtir efeito contrário ao que inicialmente seria um efeito informativo. A desinformação está voltada para ocultar determinado aspecto da realidade; no caso o político corrupto que se utiliza de outdoor para se passar por bonzinho. As feições icônicas indiciam a essência corrupta do político representado na charge.
Publicidade é ação informativa, diz que algo ou alguém existe e o faz de maneira sedutora ao receptor da mensagem. Aí o ponto nevrálgico pois, quanto menor seja o nível de esclarecimento de um determinado público, maior a possibilidade de ser apanhado pelo anúncio, especialmente quando o anúncio tem conteúdo de propaganda.
A desinformação tem sido utilizada desde as mais antigas épocas. Generais e políticos já a utilizavam a fim de desorientar e assim melhor dominar povos ou plateias. Hoje, com os modernos métodos de comunicação de massa, sofisticados, persuasivos, a desinformação é elemento essencial ao processo informativo no cotidiano. Na política então...
A charge é cáustica, significa uma tragédia; melhor, duas: a da degradação da ética nos valores políticos e a desventura das classes subalternizadas. A charge é um lamento de Diógenes, o filósofo cínico que andava ao meio-dia com uma tocha acesa à procura de um homem de bem.
Mas revela, de alguma forma, a visão preconceituosa do chargista com o Nordeste. Alguém não identificou ali, nos "analfabetos", a prefiguração clássica do nordestino? Uma mulher de trouxa na cabeça, um pobre-diabo com uma enxada, o menino sobre a cangalha do burro?
Claro, são "nordestinos". Analfabetos os há em todo o país. Nisso somos bastante democráticos. Nossa miséria, a miséria brasileira, é um estado social, encontra-se em qualquer região. Por que em vez dos "nordestinos" não se colocou o político observando uma favela carioca, algum esconso de S. Paulo, Florianópolis ou Porto Alegre?
Não, não. Tinha de ser um nordestino...
De um certo modo o bem-intencionado chargista da Folha também cometeu desinformação...
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