quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Veja só que texto encontrei na Folha. Abaixo, comento.

Fina Estampa" vai ter um assassinato a cada mês



João Fernando (interino)

Para movimentar ainda mais a trama da nove, Aguinaldo Silva vai matar um personagem a cada mês. De acordo com integrantes do elenco, o autor já tinha avisado aos atores de que haveria uma morte a cada 30 capítulos. A primeira vítima foi Zilá (Rosa Marya Collyn), que no sábado passado teve o corpo encontrado misteriosamente na mata. 
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Senador é tudo, menos zumbi

Ao ler a respeito da ficção quase delirante do gênio de Aguinaldo Silva, uma das mentes mais criativas e ácidas da -  vá lá -, teledramaturgia, veio-me à cabeça o seguinte: já pensou se alguém, um misterioso assassino agisse sorrateiramente no Congresso,  passando a eliminar senadores e deputados e transformando aquela Casa em palco de horror-show de grande impacto, um reality show exato e na essência da palavra?

Já pensou? Primeiro, apareceria um senador jogado sobre a bancada da presidência, o corpo exangue e muito branco. O corpo seria encontrado de manhã, o que levaria a supor que a eliminação fora feita durante a longa e escura noite do Congresso, templo sombrio de negócios e de lsis, local onde  acontece de tudo.

Já pensou a manchetaça da Folha, a circunspecta chamada do Estadão? E a coisa continuaria assim: senadores e senadoras, deputados e deputadas aparecendo mortos das mais diversas maneiras: pendurados no teto do congresso, boiando nos espelhos d'água de Brasilia, atirados sobre o teto dos palácios, espichados nos enormes leitos das mansões, jogados ao chão de alguma boate cara e reluzente. E tudo isso, sem  dúvida, dentro de prazos que faria estupefata a equipe de Criminal Minds: a cada semana um mandatário morto.

Brasília entraria em polvorosa: quem estaria matando aquelas nobres e candentes pessoas, todas dedicadas ao serviço público e ao bem-comum, à temperança dos costumes sóbrios e à prestação de relevantes serviços à pátria e a história. Quem? Mistério...

Enquanto isso, mais e mais vítimas iriam se acumulando até que um dia, como que por encanto, todos os mortos reapareceriam lampeiros e mais sôfregos que nunca: os jornais enlouqueceriam, os repórteres estariam à beira de um colapso, tal a profusão de pessoas - e pessoas ilustres - ressuscitadas. Uma revolução. Até na comprovação de vida após a morte.

Os ressuscitados, então, convocariam uma grande coletiva. Imprensa nacional e internacional. O mais velho deles, o presidente do Congresso então falaria, dizendo: tudo aquilo fora uma encenação com bons propósitos. Todos haviam participado de um grande show da Rede Globo como parte da campanha da campanha Seu Talão Vale um Milhão. Perdão, errei: tinham participado da campanha Criança Esperança, era o que queria dizer.

Todos haviam participado de graça, de graça, note, cedendo direitos de imagem a grande novela global a ser lançada sob o título: "Quem matou Carmélia?", sendo Carmélia uma pobre senadora que vendia ovos de páscoa para ajudar a seu lamentável irmão, semi-analfabeto e vereador mal remunerado em cidadezinha dos pampas. O dinheiro da novela iria para o Criança Esperança, entendeu leitor?

A trama era assim: Carmélia, desesperada por ser senadora, e pior que isso, pobre, pois seus pares não compravam os ovos de páscoa, fizera conjura com um caseiro que mataria congressistas a serviço de um feiticeiro do Haiti, muito necessitado de corpos para suas experiências na criação de neo-zumbis. Os corpos seriam entregues ao tal feiticeiro, que trabalhava para a CIA e pagava em dólar. Carmélia ficaria rica, igual a seus colegas.

Mas afinal o caseiro voltava-se contra Carmélia e seria ela também morta, apoderando-se o caseiro do pagamento milionário feito pelo feiticeiro a Carmélia. E a novela transcorreria sob a indagação: "Quem  matou Carmélia?". Ela reapareceria no último capítulo. Transformada em zumbi e fazendo justiça ao maléfico caseiro. Muito justo.

Quanto à presença dos congressistas na novela o presidente da Casa disse que, como a participação dos deputados e senadores havia terminado, todos haviam resolvido retornar ao trabalho, a fim de continuar prestando grandes serviços à nação, no que foi muito aplaudido.

Nisso, aconteceu o imprevisto: a atriz que havia feito o papel de Carmélia descobriu que havia participado de sessões do congresso ao entrar por acaso em plenário, e até havia votado a favor da destruição de dez por cento da floresta amazônica. Assim, queria porque queria receber o salário de senadora, cumulado de jeton e propinas de até 20 por cento conforme reza a Constituição.

Os senadores, é claro, repudiaram ato tão vil, pois propina é coisa séria. A ser negociada em restaurante de luxo e gabinetes fechados a sete chaves. Então, entraram em confronto com a atriz que foi surrada a golpes de látego e fugiu para junto de seu irmão semi-analfabeto, homiziando-se nos longínquos pampas. Dia seguinte, diante do acontecido, a Folha abriu manchetaço de três linhas, seis colunas: 

Acaba mistério dos senadores-zumbis;
sem jeton não dá pra ser feliz.
Senador é tudo, menos otário

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