quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Rogério Cadengue vive
Ana Paula Cadengue

 
Escrever sobre alguém que se ama, principalmente quando essa pessoa não está mais entre nós é sempre difícil, traz todas as emoções de volta e torna maior a saudade. E assim, meio sem saber como iniciar, já que nesta hora a jornalista cede lugar à filha, resolvi começar pelo fim. Ao transcrever a nota do SINDJORN e reler todas as notícias sobre a morte de meu pai, Rogério Cadengue, me ocorreu que sua morte não representou um ponto final. Treze anos depois, são incontáveis as manifestações de carinho que recolho no encontro com pessoas das mais diversas categorias profissionais e, principalmente, dos jornalistas que - seja como aluno ou colega – tiveram a oportunidade de conviver com Cadengue.
Pernambucano do Recife, nascido em 5 de maio de 1945, Rogério Cadengue começou trabalhar cedo, aos 13 anos, auxiliando seu pai, Eurico Cadengue, a vender medicamentos. Apesar de ter feito tudo muito cedo, casou aos 19, foi pai aos 21, só depois de ter constituído família e a despeito de ter uma vida confortável, resolveu ir atrás de seu sonho de ser jornalista. Enquanto deu, conciliou laboratórios farmacêuticos com a então Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza. Depois, teve que se virar para sustentar a prole. Chegou a dar aula em Cursinhos, mas o envolvimento com o curso, a política estudantil – foi presidente do diretório e criou o “Xeque Mate”, programa de entrevistas em recinto fechado que ganhou relevância nos anos de Ditadura – e o relacionamento com os veteranos logo o levou à redação do jornal A República, onde ingressou em 1973.
Na sequência, Cadengue integrou a Assessoria de Comunicação do Governo do Estado, na gestão de Cortez Pereira, trabalhou na Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte – FIERN e Dumbo Publicidade e Propaganda. Depois, foi para a Rádio Poti, onde atuou como chefe de programação no Departamento de Esportes e para o jornal Diário de Natal.
Em seguida, trabalhou no jornal Tribuna do Norte, sendo chefe da sucursal em Mossoró, Rádio Difusora de Mossoró e jornal Gazeta do Oeste. Voltando a Natal, foi correspondente do Diário de Pernambuco, chefe de reportagem e diretor de jornalismo da TV Universitária, onde dirigiu e apresentou programas.
Aprovado em concurso na Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN como professor colaborador, em março de 1978, lecionou a disciplina de Radiojornalismo. Selecionado para mestrado no Instituto Metodista de Ensino Superior, seguiu para São Bernardo do Campo, onde cursou todas as disciplinas do curso e foi aprovado no exame de qualificação. Ainda em São Paulo, lecionou na própria Metodista e nas Universidades de Ribeirão Preto e Organização Santamarense de Ensino e Cultura – OSEC, além de ter exercido a função de repórter no Diário do Grande ABC, em Santo André. Foi secretário-geral da Associação Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom.
De volta a Natal, foi novamente diretor de jornalismo da TV Universitária, editor especial do Diário de Natal e diretor de jornalismo da Rádio Poti.
Em 1986, recebeu convite para ser repórter especial da Empresa Brasileira de Notícias – EBN na cobertura da Assembleia Nacional Constituinte. Além disso, em Brasília, foi repórter especial no Palácio do Planalto para o Jornal de Brasília e editor do Correio do Brasil. Tamém lecionou na Universidade de Brasília – UnB.
Na Prefeitura do Natal, foi assessor de Relações Públicas na primeira administração de Wilma de Faria e Secretário de Comunicação na gestão Aldo Tinôco. Quando faleceu, integrava o Conselho Editorial de O Jornal e lecionava a disciplina de Assessoria de Comunicação na UFRN, onde era chefe do Departamento de Comunicação pela segunda vez.
Rogério Cadengue era um apaixonado pelo jornalismo e sempre fez questão de atuar em todas as suas frentes: na redação, na sala de aula e no movimento sindical. Envolvido desde cedo com as lutas da categoria, fez parte da histórica greve dos jornalistas de 1979, em São Paulo, e comandou diversas reivindicações por melhorias salariais e de trabalho, além de ter sido presidente do Sindicato dos Jornalistas do RN, do qual era fundador e o sócio número 01. Também integrou diretorias da Fenaj.
No batente, era respeitado por todos e considerado um colega valoroso, pelo vigor com o qual exercia a profissão. Como professor, se entregava de corpo e alma, e até hoje é considerado o grande incentivador de muitos que militam no jornalismo. Foi ainda o idealizador do curso de jornalismo da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.
Envolvente, animado e animador, Cadengue é exemplo de profissional ético e dedicado. Um homem que nunca deixou de sonhar com uma sociedade mais justa e sempre lutou por isso. Um jornalista na verdadeira acepção da palavra, um professor que soube inspirar seus alunos.
Termino com um pequeno excerto do próprio Cadengue, num texto escrito para seus alunos um pouco antes de morrer: “Vamos em frente,  vamos conquistar os nossos sonhos. O sonho de sermos a correia de transmissão da sociedade e de transformarmos as nossas máquinas de escrever (desculpem a falha do tempo e da idade), os nossos computadores, microfones, câmeras, arquivos, jornais, rádios, televisões, em instrumentos da consolidação da nossa profissão, da nossa luta. Instrumentos da técnica e, principalmente, da ética”. 
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