terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Os "desaparecidos" da ditadura de 64 e a necessidade do olhar da história

A existência de desaparecidos políticos durante o regime militar brasileiro (1964-1985) não deve ser motivo nem de vergonha nem de vangloriação, disse o novo chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência da República, general José Elito Siqueira.
Para Siqueira, tanto a ditadura militar -que ele chamou de "movimento de 31 de março de 1964"- como os casos de desaparecidos naquele período devem ser tratados como "fato histórico".
Defendendo um "olhar para a frente", ele se mostrou contrário à criação da Comissão da Verdade, prevista em projeto enviado pelo governo ao Congresso em 2010.

O texto é da Folha e mostra o quanto é frágil a democracia brasileira. No subtexto o contencioso, na esfera do Estado, entre forças da sociedade civil e o estamento militar que de alguma forma funciona como partido político. E partido político armada.

Se há fatos a ser apurados, que os fatos sejam apurados. Se não já vergonha que seja exposto o que não é vergonha. Não se trata de desmoralizar ou desacreditar por qualquer aspecto as Forças Armadas. Apenas esclarecer o que houve com os desaparecidos e como foram levados a tal situação.

Essas pessoas não se evaporaram, não se esfumaçaram, não há qualquer nexo, em termos de exatidão, entre o adjetivo e a real situação de quem é dito "desaparecido".

Diz o Houais, a respeito: 
Desaparecido
1    que desapareceu, que deixou de estar à vista
Ex.: objetos d.
2    que deixou de existir; extinto
Ex.: civilizações d.
n adjetivo e substantivo masculino
Rubrica: termo jurídico.
3    diz-se de ou indivíduo cujo paradeiro se desconhece, ou cuja morte se presume, embora não se tenha descoberto seu cadáver
 Obs.: cf. ausente

A acepção de número três é a que descreve a condição das pessoas que a ditadura, digamos assim, retirou do convívio social; daí desaparecidas, cadáveres presumidos Isso implica, portanto, direito de parentes e familiares de saber que destino tiveram quanto se encontravam presos, portanto, sob a tutela - e guarda - do Estado. 

Saber da destinação é bem diferente de saber do destino. Este presume algo irrefreável, situação da qual ninguém pode escapar, fatalidade. Destinação presume ação humana no encaminhamento de algo ou de alguém sobre o qual tem, materialmente, poder. 

Não há vergonha para as Forças Armadas o esclarecer desta situação. Que é histórica sim e, portanto, precisa ser passada a limpo.

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