segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

 O Poder é afrodisíaco, o Poder é tequila: cuidado com ele

A Folha destaca o porte, a beleza, charme e elegância da mulher do vice Michel Temer, Marcela Tedeschi Temer. Isso me faz lembrar a afirmativa "o Poder é afrodisíaco". A assertiva é de tal forma abrangente, que vai do sentido cabal do termo - de sedução, excitação, um certo alumbramento que oscila entre o carnal e o delírio amoroso, carinhoso e poético - às suas mais inesperadas manifestações no cotidiano dos poderosos e aqueles que, no Poder, lhes são próximos e se deslumbram com o exercício do mando que a fortuna - aqui no sentido maquiaveliano do termo -, lhes outorgou. O Poder, essa tequila.

O Poder concede ao poderoso e a seus próximos coisas como carro à disposição, o serviço prestimoso de garçons e assemelhados, segurança pessoal, residência idem, deferências e até mesmo o mais perigoso serviço que se atira a seus pés: os bajuladores. Cada porção, cada naco do poder cria ilhas de comando e obediência que deveriam obrigar o mandatário a estar sempre a postos a fim de não sucumbir ao canto dessa Afrodite que é o Poder.

No Poder você passa a ser o alvo de atenções e das atenções; vai a recepções e cerimônias, precisa estar bem vestido e ciente, diga-se, de que participa de uma mascarada, um baile de máscaras passageiro e perigoso. O jornalista, esse, especialmente esse, tem de estar atento sempre. Como tem a responsabilidade de contar o que se passa nos domínios senhoriais mas dele não faz parte, pode facilmente se iludir e pensar que o integra organicamente pelo fato da convivência obrigatória. Bobagem. Repórter que pensa e age assim termina como uma espécie de prótese, que por sua própria condição é um pedaço funcional e descartável do corpo, de qualquer corpo, especialmente do corpo do Poder. É bom ter cuidado. 

Quanto aos que são profissionais do Poder, da mais simples e pedestre câmara de vereadores aos mais escolados ususfrutuários, compradores de mandatos e que tais, recomenda-se cautela: o Poder é o mais ilusório personagem histórico: sem essência ou consistência em si, torna-se fetiche e ganha falsa vida no processo relacional que o formula. 

Para você ver que eu tenho razão: há algo de triste e profundamente desoladora a condição de "ex", especialmente o ex que saiu derrotado no último pleito, apeado do olimpo da ilusão; o ex é invadido pelo vazio, pela falta daquilo que pensava que era, mas onde apenas estava. Veja como os jornais especulam sobre "o futuro político" de quem deixou o poder. É porque os jornais, à sua maneira, são articulados ao Poder e de alguma forma querem saber o que fazem as almas penadas de quem deixou de ser poderoso pelo caminho da derrota para assumir a condição de quem tem unicamente um passado a relembrar - olhando  páginas onde é apenas uma manchete velha: Afrodite se foi.

Quanto à matéria da Folha, segue:

Michel Temer diz que sua mulher não é a Carla Bruni brasileira

FELIPE NÓBREGA
DE SÃO PAULO
A beleza de Marcela Tedeschi Temer, 27, ex-Miss Campinas e vice-Miss São Paulo (2002) e mulher do vice-presidente Michel Temer, foi um dos assuntos da posse que mais repercutiram desde ontem no Twitter.
A ex-modelo chama a atenção também por ser 43 anos mais nova do que o marido. Marcela acompanhou Temer durante toda a cerimônia de posse. 

 
Neste domingo, ao sair do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, após visitar o ex-vice presidente José Alencar, Temer disse que a sua mulher não seria uma espécie de Carla Bruni brasileira.
"Ela é discretíssima, é minha mulher e mãe do meu filho [Michel, 2]", comentou.
Temer conheceu Marcela no início da década durante um churrasco em Paulínia, no interior de São Paulo, e se casaram em 2003.


Lula Marques - 1.jan.2011/Folhapress
Marcela Temer durante a cerimônia de posse de Dilma e de seu marido, Michel
Marcela Temer, 27 anos, durante a cerimônia de posse de Dilma e de seu marido, Michel

Nenhum comentário: