quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Dilma: como se mostra uma candidata - uma análise do primeiro vídeo de campanha
Emanoel Barreto

O grande mérito do vídeo de lançamento da candidatura Dilma Rousseff não é encontrado apenas em sua condição de peça técnica de convencimento do eleitorado; no vídeo, Dilma não pede votos, não alardeia sua condição de petista, não anuncia programa de governo. O mérito ideológico da peça está em seu caráter discursivo, que ao invés de encaminhar-se, ou melhor, apresentar-se como coisa típica de campanha, assumiu o tom de documentário, de história de vida.

Com isso, a propaganda ocultou-se enquanto propaganda e passou à condição de relato convincente, testemunhal; depoimento pungente a respeito de quem, pela sua história, pelos seus compromissos, é um ator social igual ao povo. Resumindo: a mensagem recodificou-se em seu pronunciamento, disse subliminarmente que não era propaganda e afinal cumpriu com o propósito do marketing pois funcionou, sem assim ser entendida, como propaganda mesmo sendo propaganda.

O poder dessa empatia é enorme, pois estabelece junto ao receptor da mensagem um dizer de aproximação, nivelamento e congraçamento com um detalhe de qualidade: está dito, também de forma subliminar, que aquele ator político é do povo mas que, diferentemente dos atores sociais do povo, que sofrem os efeitos perversos da história e não têm como reverter esses efeitos, ela, Dilma, tem essa possibilidade, comprovada por sua história de vida.

No post anterior você encontra a peça propagandística. Se observar bem, perceberá que na legalidade interna do discurso tudo leva a crer que se trata de documentário. O que foi pretendido, o que valeu, foi a sensação imediata produzida por quem recebe a mensagem documental, que na verdade é pura propaganda. Veraz em sua essência, mas propaganda.

O vídeo reuniu em sua coerência de discurso vários argumentos de convencimento: abre com uma estrada sendo percorrida, tendo como fundo sonoro música comovente e a voz de Dilma em sobreposição, contando-se enquanto pessoa, enquanto gente. Os planos imagéticos, seus cortes, o declaratório de Lula e de pessoas que com ela conviveram quanto era perseguida política, tudo, tudo dá o tom documental-pungente à obra.

Observe como as pessoas que falam a respeito de Dilma estão ambientadas em locais onde não há iluminação total. A lua foi esbatida, o que confere à cena um toque de intimismo, naturalidade, quase um diálogo com o espectador. E segue assim toda a peça; emocionando, intercalando passado e presente como se fora um filme - que se encerra também numa estrada, o que confere a Dilma a condição de ser que se transcorre na vida dela participando, ou seja: se arriscando como cada um de nós, vislumbrando o futuro na estrada que se alonga.

O mérito técnico da obra está, então, em seu status poético-documental. Todavia, pontuado pelo declaratório de Dilma, tem o toque do pragmatismo pelo fato mesmo de que ela alude à sua capacidade administrativa e fala de sua resistência à ditadura, à prisão, ao sofrimento. Ou seja: é pessoa - que sofreu -, e é a administradora, quando se manifesta disposta à próxima missão.

Creio que a campanha transcorrerá segundo essa linha, que recorre às formulações emotivas já mencionadas. Formulações contudo embasadas em fatos, que são o passado da candidata. A obra, mesmo ativando a persuasão pela emoção, tem o valor de retratar um personagem plenamente inserido na história recente.

É um belo trabalho de propaganda. O discurso se negando como discurso para cumprir com o papel próprio dos chamamentos. Ela se afirma como pessoa para se dizer candidata. A humanização da pessoa ressaltou a administradora, do ponto de vista midiático e isso também está dido subliminarmente. Como disse, é um belo trabalho de propaganda.

Um comentário:

Leide Franco disse...

O negócio é ter produção e pessoas com boas idéias. Bom pra ela!